quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Frase para pensar
"A anunciação de um novo ano é o momento de refletirmos sobre o quanto realizamos para a construção do futuro. É com esse espírito de realização que nosso entusiasmo com a vida se renova". Anônimo
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Frase para pensar
"Viva tudo o que puder; não fazê-lo é um erro. Não importa muito o que você faz, especialmente, desde que você desfrute a sua vida. Se não teve isso, que é que você teve?... O que se perde está perdido, fique certo disso... O momento certo é qualquer momento do qual alguém ainda tenha a sorte de dispor". Henry James, 1903 (Os Embaixadores)
domingo, 20 de dezembro de 2009
Filme Número 23 - Transtorno Delirante X Esquizofrênico Parnóide
Analisar filmes, pode ser um ótimo instrumento para estudantes aprender a diagnosticar e se familiarizar com os termos da psicopatologia.
Número 23 é um exemplo disto, excelente filme, filme com bom enredo e um suspense que te envolve até o final da trama. Recomendo a todos assistir, ler e estudar sobre o assunto.
Abaixo do texto há as formas de diagnosticar Transtorno Delirantes e Esquizofrenia parnoide.
Título Original: The Number 23
Tempo: 95 minutos
Cor: Colorido
Ano de Lançamento: 2007 - EUA - Estréia dia 23 de março de 2007.
Recomendação: 14 anos
Por Eduardo J. S. Honorato e Denise Deschamps
Este era para ser o terceiro filme que escolhemos para este site. Tinhámos 3 dramas e 2 comédias =32 = 23 ao contrário. Acho que era um sinal para incluírmos este filme no site com urgência. Se vocês gostarem é sinal de que o número estava certo.
Jim (ou Jimmy) Carrey se consagrou em Hollywood através das comedias chamadas “pastelão”, e seu maior talento era a grande habilidade de fazer caretas. Sua semelhança física com o lendário Jerry Lewis o tornaram agradável aos olhos da antiga geração, ao mesmo tempo que a temática se seus filmes eram direcionadas para os novos adolescentes da América.
Inúmeros “zeros” acrescidos ao seu cachê, Carrey passou a fazer filmes mais “complexos”, ou, como dizem alguns críticos, com “algum conteúdo”. Começando com o filosófico “O Show de Truman” (The Truman Show, 1998) até o mais recente “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (Eterrnal Sunshine Of The Spotless Mind, 2004 ), temos agora mais um filme, dele, que pode ser analisado sob o ponto de vista psi. 23 nos apresenta um enredo, em primeira pessoa, de um belíssimo caso de psicose, em clássica progressão.
Carrey interpreta dois personagens. Walter Sparrow na vida real e Fingerling, em sua imaginação. Tem uma pacata e simples vida, até que alguma coisa ou algo (fator desencadeante) desperta um quadro “estranho”.
Sempre que você conversar com alguém que teve contato com pacientes com estes quadros, vai perceber que eles sempre mencionam que a pessoa comecou a “ficar estranha”. Ela não muda de um dia para outro. Não “dorme bem e acorda diferente”. É por isso que é importante, em casos histórico familiar, ficarem atentos a alguns sinais iniciais, pois pesquisam apontam para grande influência genética em alguns casos.
Um dos pontos interessantes é notar o início do seu “delírio”. Como estamos falando com de uma Psicose, de novo, um Ego bem fragilizado, que “corta” com a realidade para viver em um surto. Isso que dizer, em termos mais gerais e simples, que a “nossa” realidade é muito angustiando e gera sofrimento a estas pessoas. Esse processo está longe de ser algo consciente. Como seu Ego é bastante fragilizado, semelhante ao de uma criança no inicio do desenvolvimento psíquico, lá naquelas tão faladas “fases” descritas brilhantemente por Freud, esse nosso “mundo” amedronta esta pessoa. Para fugir desse sofrimento, ele “corta” com a nossa realidade e recria uma outra, baseada em suas fantasias infantis
Apesar dos delírios serem um corte, eles expressam algo deste inconsciente, e por isso, conseguimos ter expressões através da arte, demonstrando que o inconsciente, onde temos a criatividade, consegui ser expresso. Voce já parou para pensar que muitos artistas eram tido como “loucos” em sua época? O que diferencia então um “louco de um gênio”? A aplicabilidade de suas idéias? Da Vinci era um louco ou um gênio? Ele criou projetos de coisas que aparentemente eram absurdas, mas que se mostraram muito aplicáveis anos depois. Um surto psicótico expressa muitas coisas contidas no inconsciente e que não temos acesso em todo o momento, apenas em surtos, análise, sonhos, etc. Assim, nesses surtos existe muito do que chamamos de criatividade, pois é no inconsciente freudiano que ela reside, remeterá a constante discussão no que tange a potência pulsional em seu pólo de criação.
Voltando então aos sintomas deste quadro, acreditamos serem muito importantes os relatos destes pacientes, que devem ser entendidos pelo profissional. Vale ressaltar que em Psicopatologia existe uma grande diferença entre Sinais e Sintomas e que a maneira como são descritos os sintomas é de grande importância para o entendimento do quadro clínico.
Muitos perguntam como lidar com um surto na clínica. Confrontar, contestar, racionalizar ou usar da nossa realidade para a contrapor ou isso não é uma indicação técnica? Se você assim o fizer, correrá o risco deste paciente abandonar o acompanhamento e nunca mais retornar.
Existem casos nos quais os pacientes já foram atendidos e medicados por um psiquiatra, mas a medicação ainda não fez efeito ou aquele profissional está adequando a melhor medicação. Nesses, e em outros casos, é preciso “Viajar na maionese”. Sim, com quem relata um surto, você tem que embarcar na história dele e resgatar o saudável. Todo surto ou corte com a realidade possui um ponto saudável a partir do qual é possível sim fazer um resgate. O surto também pode ser entendido como uma tentativa de se ater a nossa realidade, de uma maneira que ela se torne suportável a este Ego. Por maior que seja o corte há uma pequena parte que se mantêm em contato com a realidade e o trabalho psicoterápico está em identificar que parte é essa e iniciar o trabalho por ali. Para isso, você precisa entender, catalogar e identificar esse sintoma....não basta embarcar, tem que saber “mapear”. De qualquer forma o objetivo último será o de aumentar essa porção do ego e torná-lo capaz de lidar com o teste de realidade sem sucumbir.
Porém, não estamos vendo o mesmo quadro que o do filme.
Muitos se confundiram com este filme, acreditando que poderia ser um caso de Esquizofrenia Paranóide, como no filme” Uma Mente Brilhante”. Muitos confundem a Esquizofrenia Paranóide com a Paranóia (Freud), também chamada da Transtorno Delirante. Uma dica simples e que pode ajudar no diagnostico diferencial está relacionada com a análise das “funções do Ego”. Os Delírios (surtos) mais “bizarros” estão relacionados com a Esquizofrenia, afinal, um Ego mais fragilizado, com defesas mais antigas, em uma fase lá no início.
No caso de Sparrow temos um delírio não bizarro. Ele começa a incomodar a vida, mas o sintoma vai consumindo aos poucos o paciente. Com certeza alguém já se sentiu assim. Na clínica, trabalhamos muito com a “reação” que o paciente provoca em “nós”(contra-transferência) e isso facilita a entender o psiquismo dele. É por isso que Psicólogos clínicos continuam sempre fazendo terapia e supervisão.
Ao ver Sparrow na televisão, sentiu qualquer reação negativa? É normal. Além de um bom ator, boa maquiagem e boa iluminação, ele tem “algo estranho” que incomoda a todos.
Diferentemente do Esquizofrênico, que se não tratado terá consequências sociais negativas, o paciente com Paranóia consegue até manter um nível de vida Social e suas funções intelectuais. Sparrow escolhe um tipo de vida pacato, longe de todos. Aqueles “excêntricos” da vida e das novelas.
Vale ressaltar que todos esses quadros, se bem acompanhados por um psiquiatra e com acompanhamento psicológico têm total condições de viver uma vida tranquila como qualquer outra pessoa. Grande parte do problema ainda reside no preconceito.
Aí voce fica confuso com o filme, pois “do nada” ele muda radicalmente. Ninguém consegue entender o que aconteceu...Tudo desencadeado por um simples livro, com uma idéia obsessiva pelo número 23 e suas combinações, como se uma maldição se abatesse sobre a realidade, controlada e conduzida por este numero mágico.
Reparem que nos surto dele não é tão simples assim, e nos deixa confuso. Sim, confuso porque ele também lembra aquele personagem do Jack Nicholson em “Melhor Impossível” (TOC). Mas tem diferenças sim.
Ao longo do filme as cenas se sobrepõem podendo haver confusão de quem é quem... se estamos assistindo a uma cena da realidade ou uma da ficção de Fingerling. Seus delírios de traição (em relação a sua esposa e um amigo da família) começam a se mesclar com a imaginação da ficção. Um exemplo clássico de Delírio de ciúmes[2]. Se entendermos que o “ciúmes[3]” é um sentimento complexo, que envolve tanto o pensamento quanto os sentimentos, podemos perceber que como as funções do Ego de Sparrow estão totalmente afetadas, este ciúmes é decorrente deste quadro patológico, ou seja, totalmente irreal, traz no fundo uma defesa contra os componentes homoeróticos de sua libido.
Quem quiser entender melhor sobre a psicodinâmica desses quadros, uma boa dica de leitura seria o que Freud escreveu em seu caso clássico chamado Schroeber, ali nesse texto, ele demonstrará toda a construção do delírio e os impulso presentes em uma formação de compromisso entre desejo e defesa que remeterão ao conjunto da libido, ao jogo das pulsões em busca da descarga.
Utilizando como base a Psicologia de Orientação Analítica (POA), com os conceitos de Psicopatologia e Psicodinâmica, fica fácil perceber que estamos lidando com um caso de Psicose. Há presença de confusão alucinatória (recriada a partir de suas fantasias e desejos) e Egossintonia (ausência de consciência do estado mórbido). Suas funções do Ego de Sensopercepção, Pensamento, Linguagem, Conduta e Afeto estão alteradas, apesar de sua Inteligência permanecer intacta.
Com essas informações, já podemos suspeitar de um caso de paranóia (DSM-IV-TR / 297.1 – Transtorno Delirante). Verificando o DSM-IV-TR, percebe-se que Walter satisfaz todos os critérios de diagnostico, recebendo a classificação do tipo PERSECUTÓRIO, onde a maldição do número 23 o persegue por toda a vida, não importando a lógica real temporal. Acredita que sua vida, e dos demais, é regida por esse número, que está sempre atrás dele, prestes a destruir sua vida. Há presença constante desta ameaça.
Os delírios do paranóide são mais “estruturados”[4] do que os delírios de um Esquizofrênico Paranóide[5]. Tanto que, sua esposa Agatha e seu filho Robin, passam a vivenciar seu delírio, acreditando, pelo menos no início, em sua obsessão gerada pelo livro. A estruturação do delírio chega a convencer aos menos despreparados, dado o nível de organização existente. Na atuação clínica, podemos referenciar em Lacan, que contribuiu para a diferenciação entre estes dois psicodiagnósticos quando identifica a crença delirante destes pacientes.[6]
Através destes delírios, Sparrow re-constrói seu mundo, ou seja, sua tentativa, não é “apenas” uma fuga da realidade, mas uma tentativa de reconstruí-la através da projeção ou ainda de sucessivas identificações projetivas.
As causas do transtorno de Walter podem ser explicadas de acordo com a abordagem utilizada, indo desde Freud (uma fantasia de desejo homossexual reprimido) até Kaplan (fator estressor significativo). A relação de Walter com suas figuras parentais não nos é apresentada com clareza, o que nos permite apenas inferir alguns comportamentos sobre seus pais, como um pai possivelmente autoritário, ocupando local de grande importância no psiquismo da criança, literalmente “roubando a cena” da figura materna, nesses primeiros e importantes anos de vida. (Vide Caso Schreber[7]). Assim como Freud escrevera, os sintomas do Paranóide são frutos da negação e repressão de impulsos homossexuais dirigidos a figura paterna.
É fácil nos deixarmos levar pela sua obsessão pelo número 23, e a partir daí pensar em um psicodiagnostico de Neurose Obsessiva. Entretanto, vemos nitidamente ao longo do filme que sua obsessão passa a fazer parte de um surto psicótico, mais completo e mais estruturado, havendo vivencia total dessa sintomatologia, o que já nos remete novamente a psicose. Devemos lembrar também, que assim como uma obsessão, o surto psicótico é uma tentativa de “esquecer” algo, mas apenas com um desdobramento diferenciado.
Ao terminar de ler este texto, anote as horas, + o dia, + a sua idade, e faça uma combinação aleatória. Se você conseguir chegar ao valor 23, ou algum dos seus múltiplos ou inversões, isso é um “sinal” de que você precisa assistir a esse filme. (risos)
Sugestão de leitura:
ELZIRIK, Cláudio, Psicoterapia de orientação analítica: teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas;1989.
FREUD, Sigmund. Notas Psicanalíticas sobre um Relato Autobiográfico de um Caso de Paranóia. (1911). Obras completas, Ed. Imago: Rio de Janeiro, 1996
FENICHEL, O. Teoria psicanalítica das neuroses. 10 ed. São Paulo: Atheneu, 2004.
Erros de gravação no Filme Número 23
1. Na hora que Walter percebe que está atrasado e vai fechar a porta do seu furgão, ele estica sua mão para a frente, em vez de fazer isso para trás, onde a porta normalmente fica quando está aberta. Para quem trabalha com o caminhão, ele deveria se lembrar sempre como a porta fica quando está aberta.
2. Quando Walter vaiu tentar pegar o cachorro, ele se abaixa e coloca sua vara no chão na tomada de frente, depois do corte para a tomada de costas ele a coloca novamente no chão. Observe que na tomada de frente ele já levantou o braço e segurou a luva.
3. Quando o cachorro morde o braço de Walter é possível ver a proteção por baixo da camisa dele. Um enchimento que se dobra nitidamente.
4. Quando Agatha está esperando por Walter, ela aparece no meio da calçada sem nada à sua frente, depois do corte na tomada da calçada ela já aparece em outra posição folheando as revistas.
Mandem dicas de filmes para analisarmos juntos
até mais
TRANSTORNO DELIRANTE
Características Diagnósticas
A característica essencial do Transtorno Delirante é a presença de um ou mais delírios não-bizarros que persistem por pelo menos 1 mês (Critério A). Um diagnóstico de Transtorno Delirante não é dado se o indivíduo já apresentou um quadro sintomático que satisfazia o Critério A para Esquizofrenia (Critério B). Alucinações auditivas ou visuais, se presentes, não são proeminentes.
Alucinações táteis ou olfativas podem estar presentes (e ser proeminentes), se relacionadas ao tema do delírio (por ex., sensação de estar infestado com insetos, associada com delírios de infestação, ou a percepção de emitir odor fétido por um orifício corporal, associada com delírios de referência). Exceto pelo impacto direto dos delírios, o funcionamento psicossocial não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é obviamente estranho ou bizarro (Critério C).
Se episódios de humor ocorrem concomitantemente com os delírios, sua duração total é relativamente breve, comparada com a duração total dos períodos delirantes (Critério D). Os delírios não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., cocaína) ou uma condição médica geral (por ex., doença de Alzheimer, lúpus eritematoso sistêmico) (Critério E).
Embora seja especialmente importante determinar se os delírios são bizarros para a distinção entre Transtorno Delirante e Esquizofrenia, este caráter bizarro pode ser difícil de julgar, especialmente entre diferentes culturas. Os delírios são considerados bizarros quando claramente implausíveis, incompreensíveis e não extraídos de experiências comuns da vida (por ex., a crença de um indivíduo de que um estranho retirou seus órgãos internos e os substituiu pelos de outra pessoa sem deixar quaisquer cicatrizes ou ferimentos).
Em comparação, os delírios não-bizarros envolvem situações que poderiam concebivelmente ocorrer (por ex., ser seguido, envenenado, infectado, amado à distância ou traído pelo cônjuge ou parceiro romântico).
O funcionamento psicossocial é variável. Alguns indivíduos podem parecer relativamente intactos em seus papéis interpessoais e ocupacionais. Em outros, o prejuízo pode ser substancial e incluir baixo ou nenhum funcionamento ocupacional e isolamento social.
Quando um fraco funcionamento psicossocial está presente no Transtorno Delirante, ele decorre diretamente das próprias crenças delirantes. Por exemplo, um indivíduo convencido de que será assassinado por "criminosos da Máfia" pode abandonar seu emprego e se recusar a sair de casa, exceto tarde da noite e apenas usando roupas diferentes de seus trajes habituais. Todo este comportamento é uma tentativa compreensível de evitar ser identificado e morto por seus supostos assassinos.
Em comparação, o fraco funcionamento na Esquizofrenia pode ser devido a sintomas tanto positivos quanto negativos (particularmente avolição). Similarmente, uma característica comum em indivíduos com Transtorno Delirante é a aparente normalidade de seu comportamento e aparência quando suas idéias delirantes não estão sendo questionadas ou postas em prática. Em geral, o funcionamentos social e conjugal estão mais propensos a sofrer prejuízos do que os funcionamentos intelectual e ocupacional.
Subtipos
O tipo de Transtorno Delirante pode ser especificado com base no tema delirante predominante:
Tipo Erotomaníaco. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a ser amado por outra pessoa. O delírio freqüentemente envolve um amor romântico e união espiritual idealizada, ao invés de atração sexual.
A pessoa sobre a qual esta convicção é mantida geralmente detém uma posição social superior (por ex., uma pessoa famosa ou um superior no trabalho), mas pode ser um completo estranho. Os esforços para contatar o objeto do delírio (por telefonemas, cartas, presentes, visitas ou até mesmo vigilância) são comuns, embora ocasionalmente a pessoa mantenha seu delírio em segredo.
A maioria dos indivíduos com este subtipo em amostras clínicas consiste de mulheres; a maior parte dos indivíduos com este subtipo em amostras forenses são homens. Algumas das pessoas com o Tipo Erotomaníaco, particularmente os homens, entram em conflito com a lei em seus esforços no sentido de alcançar o objeto de seu delírio ou em tentativas desencaminhadas de "salvá-lo" de algum perigo imaginário.
Tipo Grandioso. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio é a convicção de ter algum grande talento (irreconhecido) ou conhecimento ou de ser o autor de alguma descoberta importante. Com menor freqüência, o indivíduo pode ter o delírio de possuir um relacionamento especial com uma pessoa importante (por ex., de servir de consultor para o Presidente) ou de ser uma pessoa importante (sendo que neste caso a pessoa real pode ser considerada uma impostora).
Os delírios grandiosos podem ter um conteúdo religioso (por ex., a pessoa acredita ter uma mensagem especial oferecida por uma divindade).
Tipo Ciumento. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a estar sendo traído pelo cônjuge ou parceiro romântico. Esta crença é injustificada e está baseada em inferências incorretas apoiadas por pequenas "evidências" (por ex., roupas em desalinho ou manchas nos lençóis), que são colecionadas e usadas para justificar o delírio.
O indivíduo com o delírio geralmente confronta seu cônjuge ou parceiro e tenta intervir na infidelidade imaginada (por ex., restringindo a autonomia do cônjuge ou parceiro, seguindo-o em segredo, investigando o amante imaginário ou agredindo o parceiro).
Tipo Persecutório. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve a crença de estar sendo vítima de conspiração, traição, espionagem, perseguição, envenenamento ou intoxicação com drogas, estar sendo alvo de comentários maliciosos, de assédio ou obstruído em sua busca de objetivos de longo prazo. Pequenos deslizes podem ser exagerados e se tornar o foco de um sistema delirante.
O foco do delírio freqüentemente se concentra em alguma injustiça que deve ser remediada pela ação legal ("paranóia querelante"), podendo a pessoa afetada envolver-se em repetidas tentativas de obter satisfação, apelando aos tribunais e outras agências governamentais.
Os indivíduos com delírios persecutórios com freqüência sentem ressentimento e raiva, podendo recorrer à violência contra aqueles que supostamente os estão prejudicando.
Tipo Somático. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve funções ou sensações corporais. Os delírios somáticos podem ocorrer de diversas formas. Os mais comuns envolvem a convicção de estar emitindo odor fétido através da pele, boca, reto ou vagina, de estar infestado com insetos sobre ou sob a pele, de abrigar um parasito interno; de que certas partes do corpo são (contrariamente a todas as evidências) malformadas ou feias, ou de que certas partes do corpo (por ex., o intestino grosso) não estão funcionando.
Tipo Misto. Este subtipo aplica-se quando não há predomínio de qualquer tema delirante.
Tipo Inespecificado. Este subtipo aplica-se quando a crença dominante no delírio não pode ser claramente determinada ou não está descrita entre os tipos específicos (por ex., delírios de referência sem um componente persecutório ou grandioso proeminente).
Características e Transtornos Associados
Problemas sociais, conjugais ou profissionais podem resultar das crenças delirantes do Transtorno Delirante. Idéias de referência (por ex., de que eventos aleatórios têm uma importância especial) são comuns em indivíduos com este transtorno. A interpretação desses eventos geralmente é consistente com o conteúdo de suas crenças delirantes.
Muitos indivíduos com Transtorno Delirante desenvolvem um humor irritável ou disfórico, que habitualmente pode ser compreendido com uma reação às suas crenças delirantes. Especialmente com os Tipos Persecutório e Ciumento, podem ocorrer acentuada raiva e comportamento violento. O indivíduo pode envolver-se em um comportamento litigioso, ocasionalmente levando a centenas de cartas de protesto a órgãos governamentais ou legais e muitas aparições em tribunais.
Dificuldades legais podem ocorrer no Transtorno Delirante, Tipo Ciumento e Tipo Erotomaníaco. Os indivíduos com Transtorno Delirante, Tipo Somático, podem submeter-se a exames e procedimentos médicos desnecessários. Deficiência auditiva, severos estressores psicossociais (por ex., imigração) e baixa situação sócio-econômica podem predispor um indivíduo ao desenvolvimento de Transtorno Delirante.
A ocorrência de Episódios Depressivos Maiores provavelmente é maior em indivíduos com Transtorno Delirante do que na população geral. Tipicamente, a depressão é relativamente leve e começa após o início das crenças delirantes proeminentes. O Transtorno Delirante pode estar associado com Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Dismórfico Corporal e Transtornos da Personalidade Paranóide, Esquizóide ou Esquiva.
Características Específicas à Cultura e ao Gênero
A bagagem cultural e religiosa de um indivíduo deve ser levada em conta na avaliação da possível presença de Transtorno Delirante. Algumas culturas têm crenças amplamente mantidas e culturalmente aceitas, que poderiam ser consideradas delirantes em outros contextos. O conteúdo dos delírios também varia entre diferentes culturas e subculturas.
O Transtorno Delirante, Tipo Ciumento, provavelmente é mais comum em homens do que em mulheres, mas não parece haver uma grande diferença entre os gêneros na freqüência do Transtorno Delirante em geral.
Prevalência
O Transtorno Delirante é relativamente incomum nos contextos clínicos, e a maioria dos estudos sugere que o transtorno responde por 1-2% das baixas nos sistemas de internação em saúde mental. Ainda há informações precisas insuficientes sobre a prevalência deste transtorno na população, mas a melhor estimativa situa-se em torno de 0,03%.
Em vista de sua idade de aparecimento geralmente tardia, o risco de morbidade durante a vida pode estar entre 0,05 e 0,1%.
Curso
O início do Transtorno Delirante em geral se situa na fase intermediária ou tardia da idade adulta, mas pode ocorrer antes. O Tipo Persecutório é o subtipo mais comum. O curso é bastante variável. Especialmente no caso do Tipo Persecutório, o transtorno pode ser crônico, embora freqüentemente ocorram períodos de preocupação maior ou menor com as crenças delirantes.
Em outros casos, períodos de remissão completa podem ser seguidos por recaídas. Em outros casos, ainda, o transtorno apresenta remissão em alguns meses, sem recaída subseqüente. Algumas evidências sugerem que o Tipo Ciumento pode ter um prognóstico melhor do que o Tipo Persecutório.
Padrão Familial
Alguns estudos constataram que o Transtorno Delirante é mais comum entre parentes de indivíduos com Esquizofrenia do que seria esperado do mero acaso, enquanto outros estudos não encontraram qualquer relação entre Transtorno Delirante e Esquizofrenia.
Existem algumas evidências de que o Transtorno da Personalidade Esquiva e o Transtorno da Personalidade Paranóide podem ser especialmente comuns entre parentes biológicos em primeiro grau de indivíduos com Transtorno Delirante.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico de Transtorno Delirante é feito apenas quando o delírio não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica geral. Um delirium, uma demência e um Transtorno Psicótico Devido a uma Condição Médica Geral podem apresentar sintomas que lembram o Transtorno Delirante. Por exemplo, delírios simples de perseguição (por ex., "alguém entra em meu quarto à noite e rouba minhas roupas") na fase inicial da Demência do Tipo Alzheimer seriam diagnosticados como Demência [288]do Tipo Alzheimer, Com Delírios.
Um Transtorno Psicótico Induzido por Substância, especialmente devido a estimulantes como anfetamina e cocaína, pode ter sintomatologia idêntica ao Transtorno Delirante, mas geralmente pode ser diferenciado pela relação cronológica entre o uso da substância e o início ou a remissão das crenças delirantes.
O Transtorno Delirante pode ser diferenciado da Esquizofrenia e do Transtorno Esquizofreniforme pela ausência de outros sintomas característicos da fase ativa da Esquizofrenia (por ex., alucinações auditivas ou visuais proeminentes, delírios bizarros, discurso desorganizado, comportamento amplamente desorganizado ou catatônico, sintomas negativos). Comparado com a Esquizofrenia, o Transtorno Delirante em geral produz menos prejuízo nos funcionamentos ocupacional e social.
Pode ser difícil distinguir entre Transtornos do Humor com Aspectos Psicóticos e Transtorno Delirante, uma vez que os aspectos psicóticos associados com os Transtornos do Humor geralmente envolvem delírios não-bizarros sem alucinações proeminentes.
A distinção depende do relacionamento temporal entre a perturbação de humor e os delírios e da gravidade dos sintomas de humor.
Se os delírios ocorrem exclusivamente durante episódios de humor, o diagnóstico é de Transtorno do Humor com Aspectos Psicóticos. Embora os sintomas depressivos sejam comuns no Transtorno Delirante, eles geralmente são leves e apresentam remissão, ao passo que os sintomas delirantes persistem, e não indicam um diagnóstico separado de Transtorno do Humor.
Ocasionalmente, sintomas de humor que satisfazem todos os critérios para um episódio de humor são sobrepostos à perturbação delirante. Se os sintomas que satisfazem os critérios para um episódio de humor estão presentes por uma porção substancial da perturbação delirante (isto é, o equivalente delirante do Transtorno Esquizoafetivo), então se aplica um diagnóstico de Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação, acompanhado por Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação ou Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação.
Os indivíduos com Transtorno Psicótico Compartilhado podem apresentar sintomas similares àqueles vistos no Transtorno Delirante, mas a perturbação tem etiologia e curso característicos. No Transtorno Psicótico Compartilhado, os delírios surgem no contexto de um estreito relacionamento com outra pessoa, sua forma é idêntica aos delírios da outra pessoa, e diminuem ou desaparecem quando o indivíduo com Transtorno Psicótico Compartilhado é separado do indivíduo com o Transtorno Psicótico primário.
O Transtorno Psicótico Breve é diferenciado do Transtorno Delirante pelo fato de os sintomas delirantes, no Transtorno Psicótico Breve, durarem menos de 1 mês.
Um diagnóstico de Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação pode ser feito quando não há informações suficientes disponíveis para selecionar entre Transtorno Delirante e outros Transtornos Psicóticos, ou para determinar se os sintomas apresentados são induzidos por uma substância ou resultam de uma condição médica geral.
Pode ser difícil diferenciar a Hipocondria (especialmente Com Insight Pobre) do Transtorno Delirante. Na Hipocondria, os temores de ter uma doença grave ou a preocupação acerca de ter uma doença séria são mantidos com uma intensidade que não chega a ser delirante (isto é, o indivíduo consegue admitir a possibilidade de que a doença temida não está presente).
O Transtorno Dismórfico Corporal envolve uma preocupação com algum defeito imaginário na aparência. Muitos indivíduos com este transtorno mantêm crenças com uma intensidade que não chega a ser delirante e reconhecem que sua impressão sobre a própria aparência é distorcida.
Uma parcela significativa dos indivíduos cujos sintomas satisfazem os critérios para Transtorno Dismórfico Corporal, entretanto, mantém suas crenças com intensidade delirante.
Quando os critérios para ambos os transtornos são satisfeitos, tanto Transtorno Dismórfico Corporal quanto Transtorno Delirante, Tipo Somático, podem ser diagnosticados. Os limites entre Transtorno Obsessivo-Compulsivo (especialmente Com Insight Pobre) e Transtorno Delirante às vezes podem não ser claros.
A capacidade dos indivíduos com Transtorno Obsessivo-Compulsivo de reconhecer que as obsessões e compulsões são excessivas ou irracionais ocorre em uma linha contínua. Em alguns indivíduos, o teste de realidade pode ter-se perdido, podendo a obsessão alcançar proporções delirantes (por ex., a crença de ter causado a morte de alguém por tê-la desejado).
Se as obsessões progridem para crenças delirantes persistentes que representam um papel importante no quadro clínico, pode-se aplicar um diagnóstico adicional de Transtorno Delirante.
Em comparação com o Transtorno Delirante, não existem crenças delirantes definidas ou persistentes no Transtorno da Personalidade Paranóide. Sempre que uma pessoa com um Transtorno Delirante tem um Transtorno da Personalidade preexistente, o Transtorno da Personalidade deve ser anotado no Eixo II, seguido pela expressão "Pré-mórbido", entre parênteses.
Critérios Diagnósticos para F22.0 - 297.1 Transtorno Delirante
A. Delírios não-bizarros (isto é, envolvendo situações que ocorrem na vida real, tais como ser seguido, envenenado, infectado, amado a distância, traído por cônjuge ou parceiro romântico ou ter uma doença) com duração mínima de 1 mês.
B. O critério A para Esquizofrenia jamais foi satisfeito.
Nota: alucinações táteis e olfativas podem estar presentes no Transtorno Delirante, se relacionadas ao tema dos delírios.
C. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de suas ramificações, o funcionamento não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é visivelmente esquisito ou bizarro.
D. Se episódios de humor ocorreram durante os delírios, sua duração total foi breve relativamente à duração dos períodos delirantes.
E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., uma droga de abuso, um medicamento) ou de uma condição médica geral.
Especificar tipo (os tipos seguintes são atribuídos com base no tema predominante do(s) delírio(s):
Tipo Erotomaníaco: delírios de que outra pessoa, geralmente de situação mais elevada, está apaixonada pelo indivíduo.
Tipo Grandioso: delírios de grande valor, poder, conhecimento, identidade ou de relação especial com uma divindade ou pessoa famosa.
Tipo Ciumento: delírios de que o parceiro sexual do indivíduo é infiel.
Tipo Persecutório: delírios de que o indivíduo (ou alguém chegado a ele) está sendo, de algum modo, maldosamente tratado.
Tipo Somático: delírios de que a pessoa tem algum defeito físico ou condição médica geral.
Tipo Misto: delírios característicos de mais de um dos tipos acima, sem predomínio de nenhum deles.
Tipo Inespecificado.
ESQUIZOFRENIA PARNÓIDE
Por Elias Celso Galvêas (*)
Segundo o dicionário Aurélio:
(1) “Esquizofrenia - Termo psiquiátrico que serve para denominar um afecção mental que se caracteriza pelo relaxamento das formas usuais de associação de idéias, baixa de afetividade, autismo e perda de contato vital com a realidade, (...)”.
(2) “Paranóia – Uma das formas de psicopatia (doença psíquica) caracterizada pelo aparecimento de ambições suspeitas, que se acentuam evoluindo para delírios persecutórios e de grandeza – estruturados sobre base lógica”.
Portanto, “Esquizofrenia Paranóide” é uma modalidade de esquizofrenia que, vista como uma significativa perda de contato vital com a realidade, através do relaxamento das formas usuais de associação de idéias, toma forma (ou aspecto) de paranóia, vista, por sua vez, como um aparecimento de ambições desmedidas (suspeitas) que evoluem, geralmente, para mania de grandeza (megalomania) aliada a delírios persecutórios. No entanto, é interessante observar que apesar de ser observado o relaxamento das formas usuais de associação de idéias (característico da esquizofrenia), os sentimentos de perseguição e megalomania são, freqüentemente, estruturados sobre base lógica.
A esquizofrenia é uma das mais devastadoras dentre as desordens mentais conhecidas, fazendo com que o doente perca (parcial ou totalmente) o contato com a realidade objetiva. Os pacientes com essa modalidade de desordem psíquica costumam ver, ouvir e/ ou sentir sensações que realmente não existem na realidade objetiva e concreta, de que as pessoas supostamente “normais” partilham; e tais sensações percebidas pelo esquizofrênico - que não pertencem à realidade objetiva das pessoas consideradas normais - são denominadas “alucinações”. Para entender melhor o que são essas alucinações e como elas agem no indivíduo doente, basta ver o filme “Uma Mente Brilhante” – que é a história de John Nash, um famoso matemático esquizofrênico que elaborou uma teoria revolucionária no campo da macroeconomia, mas que, por outro lado, tinha sérios problemas afetivos devido à doença que, de certa forma, prejudicava seu julgamento objetivo em relação à realidade concreta que o cercava – apesar de não comprometer seu campo cognitivo.
Da mesma forma, o esquizofrênico é capaz de se estruturar logicamente a fim de se convencer veementemente de fatos que simplesmente não condizem com a realidade objetiva (desilusão) que o cerca. Essa verdade (ou conjunto de verdades) o consome completamente, em todos os sentidos, passando a viver em função das fantasias por ele criadas, fundindo-as (muitas vezes brilhantemente) com a realidade objetiva e concreta que ele deveria estar vivendo. Esse processo, por sua vez, recebe o nome de desilusão, que se caracteriza por uma ruptura significativa (ou mesmo total) com a realidade objetiva e concreta com a qual precisamos estar em permanente em contato.
A “esquizofrenia paranóide” é, portanto, uma modalidade de esquizofrenia (com todas as características acima descritas), e que se aproxima da paranóia, na medida em que o indivíduo apresenta tal desordem mental estruturada em traços visíveis de megalomania (mania de grandeza) e desilusões persecutórias freqüentes. Dependendo do grau (intensidade) em que a doença se manifesta, nada impede que, de modo geral, os esquizofrênicos possam ser pessoas inteligentes, criativas e produtivas.
De qualquer forma, os esquizofrênicos geralmente sofrem demasiadamente, no sentido de que não sabem distinguir suas fantasias, manias e fixações da realidade que os cerca. Tendem a criar, portanto, mundos fantasiosos à parte, dentro do qual passam a viver isolados, posto que suas fantasias tendem a funcionar como um tampão em relação à realidade objetiva, funcionando, dessa forma, como uma muralha ao convívio social. É bem provável que os esquizofrênicos ajam dessa maneira por apresentarem, em todos os sentidos, uma baixa resistência à contrariedades, perdas e frustrações: eles não suportam que duvidem deles ou que contrariem a lógica das idéias absurdas que freqüentemente estruturam.
As primeiras manifestações de “esquizofrenia paranóide” costumam aparecer, em média, entre os 16 e 34 anos. É uma doença que não tem cura, mas que pode, porém, dependendo do grau, ser controlada através de medicamentos e acompanhamento psicoterapêutico, permitindo ao indivíduo levar uma vida relativamente normal. Ataques mais graves, em graus mais severos e com maior freqüência, podem exigir internações periódicas.
AS CAUSAS
Como já deve ter sido mencionado, a “esquizofrenia paranóide” é uma das piores modalidades esquizofrenia, que se caracteriza por ser uma desordem mental causadora de intensas distorções no modo de pensar, bem como nas percepções dos sentidos: o indivíduo portador da doença ouve e vê coisas que, de fato, não existem, se vistas pelo prisma de uma “realidade concreta e objetiva” - dentro da qual, nós, indivíduos não portadores dessa doença, estamos inseridos.
Os fatores que causam precisamente a “esquizofrenia paranóide” ainda são obscuros, sendo que já se sabe que o desequilíbrio na captação e recaptação de uma combinação de importantes neurotransmissores cerebrais constitui a causa fundamental da doença. No entanto, detalhes mais precisos sobre esse desequilíbrio e sobre o processo que o causa ainda são um grande mistério a ser desvelado pela ciência moderna.
O fator hereditário possui um papel significativo, de importância, posto que já foi observado que é mais provável (aumento de probabilidade) de se ser um esquizofrênico, caso o indivíduo possua algum histórico de esquizofrenia na família. O stress e o excesso de álcool não causam a esquizofrenia, pois a esquizofrenia é uma doença de origem genética e, portanto, inata, ou seja, o indivíduo nasce potencialmente com ela. Porém o stress - aliado ao uso abusivo do álcool - pode agravar tanto os sintomas de quem possui a doença, quanto criar, em determinado grau, um quadro sintomático comportamental naqueles que não apresentam a doença.
O PRINCIPAIS SINTOMAS PARA O CORRETO DIAGNÓSITICO DA DOENÇA
A esquizofrenia é uma doença que, geralmente, se desenvolve gradualmente – apesar de que, em determinados casos, ela pode se manifestar como um surto repentino. As pessoas mais próximas ao indivíduo esquizofrênico costumam perceber as mudanças primeiro do que o próprio.
Dentre os principais sinais, estão:
• Confusão mental;
• Inabilidade (ou incapacidade) para tomar decisões por si mesmo;
• Alucinações;
• Mudanças nos hábitos alimentares ou de sono, bem como nos níveis de energia;
• Desilusões (no sentido científico da palavra, anteriormente explicado);
• Nervosismo;
• Dizeres estranho e comportamento bizarro;
• Isolamento em relação aos amigos, trabalho ou estudos;
• Freqüente negligência à higiene pessoal;
• Raiva (intensa e freqüente) e agressividade (moderada);
• Indiferença pela opinião de terceiros;
• Tendência freqüente a discutir – com predileção a assuntos polêmicos ;
• Forte convicção de superioridade em relação aos demais, e que as pessoas são incapazes de entendê-lo.
O TRATAMENTO PSICOFARMACOLÓGICO
Sem medicação e acompanhamento psicoterapêutico, a maior parte dos “esquizofrênicos paranóides” tornam-se incapazes de operar no mundo real. Sem auxílio dos medicamentos e da orientação de um profissional competente, eles poderão desenvolver severas alucinações e desilusões, podendo, facilmente, se tornarem perigosas, tanto para eles mesmos como para as pessoas que o cercam.
Os medicamentos mais comuns para o tratamento da “esquizofrenia paranóide” são: o Thorazine, o Haldol e o Risperdal, capazes de combater os sintomas de maneira eficaz, em 4 entre cada cinco pacientes (ou seja, são eficientes em 80% dos casos). Os tratamentos com os medicamentos duram de quatro a oito semanas. Como a doença é incurável, terapias convencionais ou grupais podem ajudar o paciente a entender melhor a sua condição, aprendendo, com isso, a conviver com sua doença, o que é decisivo para o aumento gradual de sua qualidade de vida e produtividade. Mas lembre-se: jamais tome remédios sem a consulta prévia de um especialista no assunto, principalmente se você ainda não sabe se possui ou não a doença. Procure, primeiramente, estudar e entender ao máximo os seus problemas, em todos os sentidos.
NO CASO DA NECESSIDADE DE UMA INTERNAÇÃO
No caso de saber que irá ser internado, é provável que o indivíduo já tenha passado por isso outras vezes e já conheça a sua condição de esquizofrênico. Todavia, no caso de ser a primeira internação, o primeiro surto, não se apresse em obter um diagnóstico de algum curioso de plantão, pois somente um psiquiatra experiente, devidamente qualificado e habilitado, poderá diagnosticar seu problema como “esquizofrenia”, bem como dizer se a modalidade da mesma é a “paranóide”. Tampouco, tente adivinhar o que está acontecendo: só por que leu um artigo interessante, não ache que é mestre no assunto, pois você sempre terá alguma coisa a aprender, assim como os especialistas na área também terão. Simplesmente aceite todo o tipo de ajudar que puder: da família, dos amigos, do especialista que acompanha o seu caso, etc.
O tratamento para um surto esquizofrênico irá, sem dúvida, necessitar de uma internação em tempo integral, em clínica especializada, de onde o paciente não poderá sair, e aonde o mesmo poderá ser assistido por uma equipe de profissionais que, seguramente, saberão o que fazer. É importante que o responsável pela internação conheça a clínica e seus antecedentes, procurando colher o maior número possível de referências e informações sobre a mesma, bem como sobre os profissionais que estarão cuidando do caso.
Com o passar do tempo, na medida em que os sintomas forem se amenizando, o especialista deve considerar a possibilidade de transferir o paciente para um sistema de tratamento ambulatorial, onde será possível permitir que o mesmo retorne à sua casa, no final de mais um dia de tratamento. Nessa etapa, os pacientes podem vestir suas próprias roupas; porém, deve-se ter o extremo cuidado em evitar que os mesmos tenham contato com qualquer objeto pontiagudo, assim como: tesouras, facas, estiletes, etc., que deverão ser devidamente guardados pelos funcionários da clínica.
Pacientes que se mostrarem excessivamente agressivos, após o período do tratamento, poderão ser arbitrariamente hospitalizados por seu médico (ou “presos” pela polícia) por até três dias. De qualquer forma, enquanto hospitalizados, os pacientes deverão passar pelos seguintes procedimentos:
• Terapia em grupo: consiste na formação de um grupo de apoio formado por pessoas que sofrem problemas semelhantes (no caso, de esquizofrenia paranóide). Dentro do grupo, o indivíduo e os demais (seus semelhantes em sofri-mento) sentem-se plenamente à vontade, no sentido de compartilhar (entre si) suas dores, angústias e sentimentos mais profundos. A terapia em grupo é orientada por um profissional competente, geralmente um psiquiatra com formação psicanalítica.
• Terapia individual: em termos clínicos, consiste numa terapia que irá complementar a terapia grupal, não sendo, por isto, considerada menos importante que ela. A terapia individual é uma tentativa de se conferir a oportunidade ao paciente de se encontrar individualmente com seu terapeuta, a fim de procurar aprender meios de conviver e lidar com a sua doença.
• Reuniões com a família: nessas sessões, o especialista irá procurar fazer com que a família entenda e ajude na recuperação do paciente, ao mesmo tempo em que prepara o terreno adequado para que o mesmo retorne ao seio familiar e reduza a possibilidade de recaídas posteriores .
• Isolamento: caso o paciente sinta-se incapaz de controlar a si mesmo, o especialista e membros de sua equipe procuram algum meio de isolar o mesmo do contato com os outros pacientes – tanto para a sua própria segurança, quanto para a segurança dos demais. Em casos em que o paciente apresente agressividade excessiva, ele poderá ser amarrado à cama até que recobre a sua serenidade e possa voltar ao convívio com os demais.
• Tratamento eletroconvulsivos: também conhecida como “Terapia de Choque”, é aconselhável somente em casos extremos, quando é observado no paciente um comportamento excessivamente evasivo e de isolamento voluntário, devido a um quadro de depressão profunda. Esse tipo de tratamento, se monitorado e bem dosado, poderá, além de eliminar o quadro depressivo, poderá contribuir para acelerar a melhora e a recuperação do paciente como um todo. O tratamento consiste em ligar eletrodos ao cérebro do indivíduo, aplicando uma corrente elétrica forte a ponto de causar, repetidas vezes, convulsões mo-deradas - que duram determinado período de tempo. O paciente perde a memória, apresentando freqüentes lapsos, em todos os sentidos. Porém a memória volta à sua normalidade, geralmente, em duas semanas.
Fontes:
http://maxpages.com/elias/Esquizofrenia_Paranoide
http://virtualpsy.locaweb.com.br/dsm_janela.php?cod=39
Número 23 é um exemplo disto, excelente filme, filme com bom enredo e um suspense que te envolve até o final da trama. Recomendo a todos assistir, ler e estudar sobre o assunto.
Abaixo do texto há as formas de diagnosticar Transtorno Delirantes e Esquizofrenia parnoide.
Título Original: The Number 23
Tempo: 95 minutos
Cor: Colorido
Ano de Lançamento: 2007 - EUA - Estréia dia 23 de março de 2007.
Recomendação: 14 anos
Por Eduardo J. S. Honorato e Denise Deschamps
Este era para ser o terceiro filme que escolhemos para este site. Tinhámos 3 dramas e 2 comédias =32 = 23 ao contrário. Acho que era um sinal para incluírmos este filme no site com urgência. Se vocês gostarem é sinal de que o número estava certo.
Jim (ou Jimmy) Carrey se consagrou em Hollywood através das comedias chamadas “pastelão”, e seu maior talento era a grande habilidade de fazer caretas. Sua semelhança física com o lendário Jerry Lewis o tornaram agradável aos olhos da antiga geração, ao mesmo tempo que a temática se seus filmes eram direcionadas para os novos adolescentes da América.
Inúmeros “zeros” acrescidos ao seu cachê, Carrey passou a fazer filmes mais “complexos”, ou, como dizem alguns críticos, com “algum conteúdo”. Começando com o filosófico “O Show de Truman” (The Truman Show, 1998) até o mais recente “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (Eterrnal Sunshine Of The Spotless Mind, 2004 ), temos agora mais um filme, dele, que pode ser analisado sob o ponto de vista psi. 23 nos apresenta um enredo, em primeira pessoa, de um belíssimo caso de psicose, em clássica progressão.
Carrey interpreta dois personagens. Walter Sparrow na vida real e Fingerling, em sua imaginação. Tem uma pacata e simples vida, até que alguma coisa ou algo (fator desencadeante) desperta um quadro “estranho”.
Sempre que você conversar com alguém que teve contato com pacientes com estes quadros, vai perceber que eles sempre mencionam que a pessoa comecou a “ficar estranha”. Ela não muda de um dia para outro. Não “dorme bem e acorda diferente”. É por isso que é importante, em casos histórico familiar, ficarem atentos a alguns sinais iniciais, pois pesquisam apontam para grande influência genética em alguns casos.
Um dos pontos interessantes é notar o início do seu “delírio”. Como estamos falando com de uma Psicose, de novo, um Ego bem fragilizado, que “corta” com a realidade para viver em um surto. Isso que dizer, em termos mais gerais e simples, que a “nossa” realidade é muito angustiando e gera sofrimento a estas pessoas. Esse processo está longe de ser algo consciente. Como seu Ego é bastante fragilizado, semelhante ao de uma criança no inicio do desenvolvimento psíquico, lá naquelas tão faladas “fases” descritas brilhantemente por Freud, esse nosso “mundo” amedronta esta pessoa. Para fugir desse sofrimento, ele “corta” com a nossa realidade e recria uma outra, baseada em suas fantasias infantis
Apesar dos delírios serem um corte, eles expressam algo deste inconsciente, e por isso, conseguimos ter expressões através da arte, demonstrando que o inconsciente, onde temos a criatividade, consegui ser expresso. Voce já parou para pensar que muitos artistas eram tido como “loucos” em sua época? O que diferencia então um “louco de um gênio”? A aplicabilidade de suas idéias? Da Vinci era um louco ou um gênio? Ele criou projetos de coisas que aparentemente eram absurdas, mas que se mostraram muito aplicáveis anos depois. Um surto psicótico expressa muitas coisas contidas no inconsciente e que não temos acesso em todo o momento, apenas em surtos, análise, sonhos, etc. Assim, nesses surtos existe muito do que chamamos de criatividade, pois é no inconsciente freudiano que ela reside, remeterá a constante discussão no que tange a potência pulsional em seu pólo de criação.
Voltando então aos sintomas deste quadro, acreditamos serem muito importantes os relatos destes pacientes, que devem ser entendidos pelo profissional. Vale ressaltar que em Psicopatologia existe uma grande diferença entre Sinais e Sintomas e que a maneira como são descritos os sintomas é de grande importância para o entendimento do quadro clínico.
Muitos perguntam como lidar com um surto na clínica. Confrontar, contestar, racionalizar ou usar da nossa realidade para a contrapor ou isso não é uma indicação técnica? Se você assim o fizer, correrá o risco deste paciente abandonar o acompanhamento e nunca mais retornar.
Existem casos nos quais os pacientes já foram atendidos e medicados por um psiquiatra, mas a medicação ainda não fez efeito ou aquele profissional está adequando a melhor medicação. Nesses, e em outros casos, é preciso “Viajar na maionese”. Sim, com quem relata um surto, você tem que embarcar na história dele e resgatar o saudável. Todo surto ou corte com a realidade possui um ponto saudável a partir do qual é possível sim fazer um resgate. O surto também pode ser entendido como uma tentativa de se ater a nossa realidade, de uma maneira que ela se torne suportável a este Ego. Por maior que seja o corte há uma pequena parte que se mantêm em contato com a realidade e o trabalho psicoterápico está em identificar que parte é essa e iniciar o trabalho por ali. Para isso, você precisa entender, catalogar e identificar esse sintoma....não basta embarcar, tem que saber “mapear”. De qualquer forma o objetivo último será o de aumentar essa porção do ego e torná-lo capaz de lidar com o teste de realidade sem sucumbir.
Porém, não estamos vendo o mesmo quadro que o do filme.
Muitos se confundiram com este filme, acreditando que poderia ser um caso de Esquizofrenia Paranóide, como no filme” Uma Mente Brilhante”. Muitos confundem a Esquizofrenia Paranóide com a Paranóia (Freud), também chamada da Transtorno Delirante. Uma dica simples e que pode ajudar no diagnostico diferencial está relacionada com a análise das “funções do Ego”. Os Delírios (surtos) mais “bizarros” estão relacionados com a Esquizofrenia, afinal, um Ego mais fragilizado, com defesas mais antigas, em uma fase lá no início.
No caso de Sparrow temos um delírio não bizarro. Ele começa a incomodar a vida, mas o sintoma vai consumindo aos poucos o paciente. Com certeza alguém já se sentiu assim. Na clínica, trabalhamos muito com a “reação” que o paciente provoca em “nós”(contra-transferência) e isso facilita a entender o psiquismo dele. É por isso que Psicólogos clínicos continuam sempre fazendo terapia e supervisão.
Ao ver Sparrow na televisão, sentiu qualquer reação negativa? É normal. Além de um bom ator, boa maquiagem e boa iluminação, ele tem “algo estranho” que incomoda a todos.
Diferentemente do Esquizofrênico, que se não tratado terá consequências sociais negativas, o paciente com Paranóia consegue até manter um nível de vida Social e suas funções intelectuais. Sparrow escolhe um tipo de vida pacato, longe de todos. Aqueles “excêntricos” da vida e das novelas.
Vale ressaltar que todos esses quadros, se bem acompanhados por um psiquiatra e com acompanhamento psicológico têm total condições de viver uma vida tranquila como qualquer outra pessoa. Grande parte do problema ainda reside no preconceito.
Aí voce fica confuso com o filme, pois “do nada” ele muda radicalmente. Ninguém consegue entender o que aconteceu...Tudo desencadeado por um simples livro, com uma idéia obsessiva pelo número 23 e suas combinações, como se uma maldição se abatesse sobre a realidade, controlada e conduzida por este numero mágico.
Reparem que nos surto dele não é tão simples assim, e nos deixa confuso. Sim, confuso porque ele também lembra aquele personagem do Jack Nicholson em “Melhor Impossível” (TOC). Mas tem diferenças sim.
Ao longo do filme as cenas se sobrepõem podendo haver confusão de quem é quem... se estamos assistindo a uma cena da realidade ou uma da ficção de Fingerling. Seus delírios de traição (em relação a sua esposa e um amigo da família) começam a se mesclar com a imaginação da ficção. Um exemplo clássico de Delírio de ciúmes[2]. Se entendermos que o “ciúmes[3]” é um sentimento complexo, que envolve tanto o pensamento quanto os sentimentos, podemos perceber que como as funções do Ego de Sparrow estão totalmente afetadas, este ciúmes é decorrente deste quadro patológico, ou seja, totalmente irreal, traz no fundo uma defesa contra os componentes homoeróticos de sua libido.
Quem quiser entender melhor sobre a psicodinâmica desses quadros, uma boa dica de leitura seria o que Freud escreveu em seu caso clássico chamado Schroeber, ali nesse texto, ele demonstrará toda a construção do delírio e os impulso presentes em uma formação de compromisso entre desejo e defesa que remeterão ao conjunto da libido, ao jogo das pulsões em busca da descarga.
Utilizando como base a Psicologia de Orientação Analítica (POA), com os conceitos de Psicopatologia e Psicodinâmica, fica fácil perceber que estamos lidando com um caso de Psicose. Há presença de confusão alucinatória (recriada a partir de suas fantasias e desejos) e Egossintonia (ausência de consciência do estado mórbido). Suas funções do Ego de Sensopercepção, Pensamento, Linguagem, Conduta e Afeto estão alteradas, apesar de sua Inteligência permanecer intacta.
Com essas informações, já podemos suspeitar de um caso de paranóia (DSM-IV-TR / 297.1 – Transtorno Delirante). Verificando o DSM-IV-TR, percebe-se que Walter satisfaz todos os critérios de diagnostico, recebendo a classificação do tipo PERSECUTÓRIO, onde a maldição do número 23 o persegue por toda a vida, não importando a lógica real temporal. Acredita que sua vida, e dos demais, é regida por esse número, que está sempre atrás dele, prestes a destruir sua vida. Há presença constante desta ameaça.
Os delírios do paranóide são mais “estruturados”[4] do que os delírios de um Esquizofrênico Paranóide[5]. Tanto que, sua esposa Agatha e seu filho Robin, passam a vivenciar seu delírio, acreditando, pelo menos no início, em sua obsessão gerada pelo livro. A estruturação do delírio chega a convencer aos menos despreparados, dado o nível de organização existente. Na atuação clínica, podemos referenciar em Lacan, que contribuiu para a diferenciação entre estes dois psicodiagnósticos quando identifica a crença delirante destes pacientes.[6]
Através destes delírios, Sparrow re-constrói seu mundo, ou seja, sua tentativa, não é “apenas” uma fuga da realidade, mas uma tentativa de reconstruí-la através da projeção ou ainda de sucessivas identificações projetivas.
As causas do transtorno de Walter podem ser explicadas de acordo com a abordagem utilizada, indo desde Freud (uma fantasia de desejo homossexual reprimido) até Kaplan (fator estressor significativo). A relação de Walter com suas figuras parentais não nos é apresentada com clareza, o que nos permite apenas inferir alguns comportamentos sobre seus pais, como um pai possivelmente autoritário, ocupando local de grande importância no psiquismo da criança, literalmente “roubando a cena” da figura materna, nesses primeiros e importantes anos de vida. (Vide Caso Schreber[7]). Assim como Freud escrevera, os sintomas do Paranóide são frutos da negação e repressão de impulsos homossexuais dirigidos a figura paterna.
É fácil nos deixarmos levar pela sua obsessão pelo número 23, e a partir daí pensar em um psicodiagnostico de Neurose Obsessiva. Entretanto, vemos nitidamente ao longo do filme que sua obsessão passa a fazer parte de um surto psicótico, mais completo e mais estruturado, havendo vivencia total dessa sintomatologia, o que já nos remete novamente a psicose. Devemos lembrar também, que assim como uma obsessão, o surto psicótico é uma tentativa de “esquecer” algo, mas apenas com um desdobramento diferenciado.
Ao terminar de ler este texto, anote as horas, + o dia, + a sua idade, e faça uma combinação aleatória. Se você conseguir chegar ao valor 23, ou algum dos seus múltiplos ou inversões, isso é um “sinal” de que você precisa assistir a esse filme. (risos)
Sugestão de leitura:
ELZIRIK, Cláudio, Psicoterapia de orientação analítica: teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas;1989.
FREUD, Sigmund. Notas Psicanalíticas sobre um Relato Autobiográfico de um Caso de Paranóia. (1911). Obras completas, Ed. Imago: Rio de Janeiro, 1996
FENICHEL, O. Teoria psicanalítica das neuroses. 10 ed. São Paulo: Atheneu, 2004.
Erros de gravação no Filme Número 23
1. Na hora que Walter percebe que está atrasado e vai fechar a porta do seu furgão, ele estica sua mão para a frente, em vez de fazer isso para trás, onde a porta normalmente fica quando está aberta. Para quem trabalha com o caminhão, ele deveria se lembrar sempre como a porta fica quando está aberta.
2. Quando Walter vaiu tentar pegar o cachorro, ele se abaixa e coloca sua vara no chão na tomada de frente, depois do corte para a tomada de costas ele a coloca novamente no chão. Observe que na tomada de frente ele já levantou o braço e segurou a luva.
3. Quando o cachorro morde o braço de Walter é possível ver a proteção por baixo da camisa dele. Um enchimento que se dobra nitidamente.
4. Quando Agatha está esperando por Walter, ela aparece no meio da calçada sem nada à sua frente, depois do corte na tomada da calçada ela já aparece em outra posição folheando as revistas.
Mandem dicas de filmes para analisarmos juntos
até mais
TRANSTORNO DELIRANTE
Características Diagnósticas
A característica essencial do Transtorno Delirante é a presença de um ou mais delírios não-bizarros que persistem por pelo menos 1 mês (Critério A). Um diagnóstico de Transtorno Delirante não é dado se o indivíduo já apresentou um quadro sintomático que satisfazia o Critério A para Esquizofrenia (Critério B). Alucinações auditivas ou visuais, se presentes, não são proeminentes.
Alucinações táteis ou olfativas podem estar presentes (e ser proeminentes), se relacionadas ao tema do delírio (por ex., sensação de estar infestado com insetos, associada com delírios de infestação, ou a percepção de emitir odor fétido por um orifício corporal, associada com delírios de referência). Exceto pelo impacto direto dos delírios, o funcionamento psicossocial não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é obviamente estranho ou bizarro (Critério C).
Se episódios de humor ocorrem concomitantemente com os delírios, sua duração total é relativamente breve, comparada com a duração total dos períodos delirantes (Critério D). Os delírios não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., cocaína) ou uma condição médica geral (por ex., doença de Alzheimer, lúpus eritematoso sistêmico) (Critério E).
Embora seja especialmente importante determinar se os delírios são bizarros para a distinção entre Transtorno Delirante e Esquizofrenia, este caráter bizarro pode ser difícil de julgar, especialmente entre diferentes culturas. Os delírios são considerados bizarros quando claramente implausíveis, incompreensíveis e não extraídos de experiências comuns da vida (por ex., a crença de um indivíduo de que um estranho retirou seus órgãos internos e os substituiu pelos de outra pessoa sem deixar quaisquer cicatrizes ou ferimentos).
Em comparação, os delírios não-bizarros envolvem situações que poderiam concebivelmente ocorrer (por ex., ser seguido, envenenado, infectado, amado à distância ou traído pelo cônjuge ou parceiro romântico).
O funcionamento psicossocial é variável. Alguns indivíduos podem parecer relativamente intactos em seus papéis interpessoais e ocupacionais. Em outros, o prejuízo pode ser substancial e incluir baixo ou nenhum funcionamento ocupacional e isolamento social.
Quando um fraco funcionamento psicossocial está presente no Transtorno Delirante, ele decorre diretamente das próprias crenças delirantes. Por exemplo, um indivíduo convencido de que será assassinado por "criminosos da Máfia" pode abandonar seu emprego e se recusar a sair de casa, exceto tarde da noite e apenas usando roupas diferentes de seus trajes habituais. Todo este comportamento é uma tentativa compreensível de evitar ser identificado e morto por seus supostos assassinos.
Em comparação, o fraco funcionamento na Esquizofrenia pode ser devido a sintomas tanto positivos quanto negativos (particularmente avolição). Similarmente, uma característica comum em indivíduos com Transtorno Delirante é a aparente normalidade de seu comportamento e aparência quando suas idéias delirantes não estão sendo questionadas ou postas em prática. Em geral, o funcionamentos social e conjugal estão mais propensos a sofrer prejuízos do que os funcionamentos intelectual e ocupacional.
Subtipos
O tipo de Transtorno Delirante pode ser especificado com base no tema delirante predominante:
Tipo Erotomaníaco. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a ser amado por outra pessoa. O delírio freqüentemente envolve um amor romântico e união espiritual idealizada, ao invés de atração sexual.
A pessoa sobre a qual esta convicção é mantida geralmente detém uma posição social superior (por ex., uma pessoa famosa ou um superior no trabalho), mas pode ser um completo estranho. Os esforços para contatar o objeto do delírio (por telefonemas, cartas, presentes, visitas ou até mesmo vigilância) são comuns, embora ocasionalmente a pessoa mantenha seu delírio em segredo.
A maioria dos indivíduos com este subtipo em amostras clínicas consiste de mulheres; a maior parte dos indivíduos com este subtipo em amostras forenses são homens. Algumas das pessoas com o Tipo Erotomaníaco, particularmente os homens, entram em conflito com a lei em seus esforços no sentido de alcançar o objeto de seu delírio ou em tentativas desencaminhadas de "salvá-lo" de algum perigo imaginário.
Tipo Grandioso. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio é a convicção de ter algum grande talento (irreconhecido) ou conhecimento ou de ser o autor de alguma descoberta importante. Com menor freqüência, o indivíduo pode ter o delírio de possuir um relacionamento especial com uma pessoa importante (por ex., de servir de consultor para o Presidente) ou de ser uma pessoa importante (sendo que neste caso a pessoa real pode ser considerada uma impostora).
Os delírios grandiosos podem ter um conteúdo religioso (por ex., a pessoa acredita ter uma mensagem especial oferecida por uma divindade).
Tipo Ciumento. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a estar sendo traído pelo cônjuge ou parceiro romântico. Esta crença é injustificada e está baseada em inferências incorretas apoiadas por pequenas "evidências" (por ex., roupas em desalinho ou manchas nos lençóis), que são colecionadas e usadas para justificar o delírio.
O indivíduo com o delírio geralmente confronta seu cônjuge ou parceiro e tenta intervir na infidelidade imaginada (por ex., restringindo a autonomia do cônjuge ou parceiro, seguindo-o em segredo, investigando o amante imaginário ou agredindo o parceiro).
Tipo Persecutório. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve a crença de estar sendo vítima de conspiração, traição, espionagem, perseguição, envenenamento ou intoxicação com drogas, estar sendo alvo de comentários maliciosos, de assédio ou obstruído em sua busca de objetivos de longo prazo. Pequenos deslizes podem ser exagerados e se tornar o foco de um sistema delirante.
O foco do delírio freqüentemente se concentra em alguma injustiça que deve ser remediada pela ação legal ("paranóia querelante"), podendo a pessoa afetada envolver-se em repetidas tentativas de obter satisfação, apelando aos tribunais e outras agências governamentais.
Os indivíduos com delírios persecutórios com freqüência sentem ressentimento e raiva, podendo recorrer à violência contra aqueles que supostamente os estão prejudicando.
Tipo Somático. Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve funções ou sensações corporais. Os delírios somáticos podem ocorrer de diversas formas. Os mais comuns envolvem a convicção de estar emitindo odor fétido através da pele, boca, reto ou vagina, de estar infestado com insetos sobre ou sob a pele, de abrigar um parasito interno; de que certas partes do corpo são (contrariamente a todas as evidências) malformadas ou feias, ou de que certas partes do corpo (por ex., o intestino grosso) não estão funcionando.
Tipo Misto. Este subtipo aplica-se quando não há predomínio de qualquer tema delirante.
Tipo Inespecificado. Este subtipo aplica-se quando a crença dominante no delírio não pode ser claramente determinada ou não está descrita entre os tipos específicos (por ex., delírios de referência sem um componente persecutório ou grandioso proeminente).
Características e Transtornos Associados
Problemas sociais, conjugais ou profissionais podem resultar das crenças delirantes do Transtorno Delirante. Idéias de referência (por ex., de que eventos aleatórios têm uma importância especial) são comuns em indivíduos com este transtorno. A interpretação desses eventos geralmente é consistente com o conteúdo de suas crenças delirantes.
Muitos indivíduos com Transtorno Delirante desenvolvem um humor irritável ou disfórico, que habitualmente pode ser compreendido com uma reação às suas crenças delirantes. Especialmente com os Tipos Persecutório e Ciumento, podem ocorrer acentuada raiva e comportamento violento. O indivíduo pode envolver-se em um comportamento litigioso, ocasionalmente levando a centenas de cartas de protesto a órgãos governamentais ou legais e muitas aparições em tribunais.
Dificuldades legais podem ocorrer no Transtorno Delirante, Tipo Ciumento e Tipo Erotomaníaco. Os indivíduos com Transtorno Delirante, Tipo Somático, podem submeter-se a exames e procedimentos médicos desnecessários. Deficiência auditiva, severos estressores psicossociais (por ex., imigração) e baixa situação sócio-econômica podem predispor um indivíduo ao desenvolvimento de Transtorno Delirante.
A ocorrência de Episódios Depressivos Maiores provavelmente é maior em indivíduos com Transtorno Delirante do que na população geral. Tipicamente, a depressão é relativamente leve e começa após o início das crenças delirantes proeminentes. O Transtorno Delirante pode estar associado com Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Dismórfico Corporal e Transtornos da Personalidade Paranóide, Esquizóide ou Esquiva.
Características Específicas à Cultura e ao Gênero
A bagagem cultural e religiosa de um indivíduo deve ser levada em conta na avaliação da possível presença de Transtorno Delirante. Algumas culturas têm crenças amplamente mantidas e culturalmente aceitas, que poderiam ser consideradas delirantes em outros contextos. O conteúdo dos delírios também varia entre diferentes culturas e subculturas.
O Transtorno Delirante, Tipo Ciumento, provavelmente é mais comum em homens do que em mulheres, mas não parece haver uma grande diferença entre os gêneros na freqüência do Transtorno Delirante em geral.
Prevalência
O Transtorno Delirante é relativamente incomum nos contextos clínicos, e a maioria dos estudos sugere que o transtorno responde por 1-2% das baixas nos sistemas de internação em saúde mental. Ainda há informações precisas insuficientes sobre a prevalência deste transtorno na população, mas a melhor estimativa situa-se em torno de 0,03%.
Em vista de sua idade de aparecimento geralmente tardia, o risco de morbidade durante a vida pode estar entre 0,05 e 0,1%.
Curso
O início do Transtorno Delirante em geral se situa na fase intermediária ou tardia da idade adulta, mas pode ocorrer antes. O Tipo Persecutório é o subtipo mais comum. O curso é bastante variável. Especialmente no caso do Tipo Persecutório, o transtorno pode ser crônico, embora freqüentemente ocorram períodos de preocupação maior ou menor com as crenças delirantes.
Em outros casos, períodos de remissão completa podem ser seguidos por recaídas. Em outros casos, ainda, o transtorno apresenta remissão em alguns meses, sem recaída subseqüente. Algumas evidências sugerem que o Tipo Ciumento pode ter um prognóstico melhor do que o Tipo Persecutório.
Padrão Familial
Alguns estudos constataram que o Transtorno Delirante é mais comum entre parentes de indivíduos com Esquizofrenia do que seria esperado do mero acaso, enquanto outros estudos não encontraram qualquer relação entre Transtorno Delirante e Esquizofrenia.
Existem algumas evidências de que o Transtorno da Personalidade Esquiva e o Transtorno da Personalidade Paranóide podem ser especialmente comuns entre parentes biológicos em primeiro grau de indivíduos com Transtorno Delirante.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico de Transtorno Delirante é feito apenas quando o delírio não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica geral. Um delirium, uma demência e um Transtorno Psicótico Devido a uma Condição Médica Geral podem apresentar sintomas que lembram o Transtorno Delirante. Por exemplo, delírios simples de perseguição (por ex., "alguém entra em meu quarto à noite e rouba minhas roupas") na fase inicial da Demência do Tipo Alzheimer seriam diagnosticados como Demência [288]do Tipo Alzheimer, Com Delírios.
Um Transtorno Psicótico Induzido por Substância, especialmente devido a estimulantes como anfetamina e cocaína, pode ter sintomatologia idêntica ao Transtorno Delirante, mas geralmente pode ser diferenciado pela relação cronológica entre o uso da substância e o início ou a remissão das crenças delirantes.
O Transtorno Delirante pode ser diferenciado da Esquizofrenia e do Transtorno Esquizofreniforme pela ausência de outros sintomas característicos da fase ativa da Esquizofrenia (por ex., alucinações auditivas ou visuais proeminentes, delírios bizarros, discurso desorganizado, comportamento amplamente desorganizado ou catatônico, sintomas negativos). Comparado com a Esquizofrenia, o Transtorno Delirante em geral produz menos prejuízo nos funcionamentos ocupacional e social.
Pode ser difícil distinguir entre Transtornos do Humor com Aspectos Psicóticos e Transtorno Delirante, uma vez que os aspectos psicóticos associados com os Transtornos do Humor geralmente envolvem delírios não-bizarros sem alucinações proeminentes.
A distinção depende do relacionamento temporal entre a perturbação de humor e os delírios e da gravidade dos sintomas de humor.
Se os delírios ocorrem exclusivamente durante episódios de humor, o diagnóstico é de Transtorno do Humor com Aspectos Psicóticos. Embora os sintomas depressivos sejam comuns no Transtorno Delirante, eles geralmente são leves e apresentam remissão, ao passo que os sintomas delirantes persistem, e não indicam um diagnóstico separado de Transtorno do Humor.
Ocasionalmente, sintomas de humor que satisfazem todos os critérios para um episódio de humor são sobrepostos à perturbação delirante. Se os sintomas que satisfazem os critérios para um episódio de humor estão presentes por uma porção substancial da perturbação delirante (isto é, o equivalente delirante do Transtorno Esquizoafetivo), então se aplica um diagnóstico de Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação, acompanhado por Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação ou Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação.
Os indivíduos com Transtorno Psicótico Compartilhado podem apresentar sintomas similares àqueles vistos no Transtorno Delirante, mas a perturbação tem etiologia e curso característicos. No Transtorno Psicótico Compartilhado, os delírios surgem no contexto de um estreito relacionamento com outra pessoa, sua forma é idêntica aos delírios da outra pessoa, e diminuem ou desaparecem quando o indivíduo com Transtorno Psicótico Compartilhado é separado do indivíduo com o Transtorno Psicótico primário.
O Transtorno Psicótico Breve é diferenciado do Transtorno Delirante pelo fato de os sintomas delirantes, no Transtorno Psicótico Breve, durarem menos de 1 mês.
Um diagnóstico de Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação pode ser feito quando não há informações suficientes disponíveis para selecionar entre Transtorno Delirante e outros Transtornos Psicóticos, ou para determinar se os sintomas apresentados são induzidos por uma substância ou resultam de uma condição médica geral.
Pode ser difícil diferenciar a Hipocondria (especialmente Com Insight Pobre) do Transtorno Delirante. Na Hipocondria, os temores de ter uma doença grave ou a preocupação acerca de ter uma doença séria são mantidos com uma intensidade que não chega a ser delirante (isto é, o indivíduo consegue admitir a possibilidade de que a doença temida não está presente).
O Transtorno Dismórfico Corporal envolve uma preocupação com algum defeito imaginário na aparência. Muitos indivíduos com este transtorno mantêm crenças com uma intensidade que não chega a ser delirante e reconhecem que sua impressão sobre a própria aparência é distorcida.
Uma parcela significativa dos indivíduos cujos sintomas satisfazem os critérios para Transtorno Dismórfico Corporal, entretanto, mantém suas crenças com intensidade delirante.
Quando os critérios para ambos os transtornos são satisfeitos, tanto Transtorno Dismórfico Corporal quanto Transtorno Delirante, Tipo Somático, podem ser diagnosticados. Os limites entre Transtorno Obsessivo-Compulsivo (especialmente Com Insight Pobre) e Transtorno Delirante às vezes podem não ser claros.
A capacidade dos indivíduos com Transtorno Obsessivo-Compulsivo de reconhecer que as obsessões e compulsões são excessivas ou irracionais ocorre em uma linha contínua. Em alguns indivíduos, o teste de realidade pode ter-se perdido, podendo a obsessão alcançar proporções delirantes (por ex., a crença de ter causado a morte de alguém por tê-la desejado).
Se as obsessões progridem para crenças delirantes persistentes que representam um papel importante no quadro clínico, pode-se aplicar um diagnóstico adicional de Transtorno Delirante.
Em comparação com o Transtorno Delirante, não existem crenças delirantes definidas ou persistentes no Transtorno da Personalidade Paranóide. Sempre que uma pessoa com um Transtorno Delirante tem um Transtorno da Personalidade preexistente, o Transtorno da Personalidade deve ser anotado no Eixo II, seguido pela expressão "Pré-mórbido", entre parênteses.
Critérios Diagnósticos para F22.0 - 297.1 Transtorno Delirante
A. Delírios não-bizarros (isto é, envolvendo situações que ocorrem na vida real, tais como ser seguido, envenenado, infectado, amado a distância, traído por cônjuge ou parceiro romântico ou ter uma doença) com duração mínima de 1 mês.
B. O critério A para Esquizofrenia jamais foi satisfeito.
Nota: alucinações táteis e olfativas podem estar presentes no Transtorno Delirante, se relacionadas ao tema dos delírios.
C. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de suas ramificações, o funcionamento não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é visivelmente esquisito ou bizarro.
D. Se episódios de humor ocorreram durante os delírios, sua duração total foi breve relativamente à duração dos períodos delirantes.
E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., uma droga de abuso, um medicamento) ou de uma condição médica geral.
Especificar tipo (os tipos seguintes são atribuídos com base no tema predominante do(s) delírio(s):
Tipo Erotomaníaco: delírios de que outra pessoa, geralmente de situação mais elevada, está apaixonada pelo indivíduo.
Tipo Grandioso: delírios de grande valor, poder, conhecimento, identidade ou de relação especial com uma divindade ou pessoa famosa.
Tipo Ciumento: delírios de que o parceiro sexual do indivíduo é infiel.
Tipo Persecutório: delírios de que o indivíduo (ou alguém chegado a ele) está sendo, de algum modo, maldosamente tratado.
Tipo Somático: delírios de que a pessoa tem algum defeito físico ou condição médica geral.
Tipo Misto: delírios característicos de mais de um dos tipos acima, sem predomínio de nenhum deles.
Tipo Inespecificado.
ESQUIZOFRENIA PARNÓIDE
Por Elias Celso Galvêas (*)
Segundo o dicionário Aurélio:
(1) “Esquizofrenia - Termo psiquiátrico que serve para denominar um afecção mental que se caracteriza pelo relaxamento das formas usuais de associação de idéias, baixa de afetividade, autismo e perda de contato vital com a realidade, (...)”.
(2) “Paranóia – Uma das formas de psicopatia (doença psíquica) caracterizada pelo aparecimento de ambições suspeitas, que se acentuam evoluindo para delírios persecutórios e de grandeza – estruturados sobre base lógica”.
Portanto, “Esquizofrenia Paranóide” é uma modalidade de esquizofrenia que, vista como uma significativa perda de contato vital com a realidade, através do relaxamento das formas usuais de associação de idéias, toma forma (ou aspecto) de paranóia, vista, por sua vez, como um aparecimento de ambições desmedidas (suspeitas) que evoluem, geralmente, para mania de grandeza (megalomania) aliada a delírios persecutórios. No entanto, é interessante observar que apesar de ser observado o relaxamento das formas usuais de associação de idéias (característico da esquizofrenia), os sentimentos de perseguição e megalomania são, freqüentemente, estruturados sobre base lógica.
A esquizofrenia é uma das mais devastadoras dentre as desordens mentais conhecidas, fazendo com que o doente perca (parcial ou totalmente) o contato com a realidade objetiva. Os pacientes com essa modalidade de desordem psíquica costumam ver, ouvir e/ ou sentir sensações que realmente não existem na realidade objetiva e concreta, de que as pessoas supostamente “normais” partilham; e tais sensações percebidas pelo esquizofrênico - que não pertencem à realidade objetiva das pessoas consideradas normais - são denominadas “alucinações”. Para entender melhor o que são essas alucinações e como elas agem no indivíduo doente, basta ver o filme “Uma Mente Brilhante” – que é a história de John Nash, um famoso matemático esquizofrênico que elaborou uma teoria revolucionária no campo da macroeconomia, mas que, por outro lado, tinha sérios problemas afetivos devido à doença que, de certa forma, prejudicava seu julgamento objetivo em relação à realidade concreta que o cercava – apesar de não comprometer seu campo cognitivo.
Da mesma forma, o esquizofrênico é capaz de se estruturar logicamente a fim de se convencer veementemente de fatos que simplesmente não condizem com a realidade objetiva (desilusão) que o cerca. Essa verdade (ou conjunto de verdades) o consome completamente, em todos os sentidos, passando a viver em função das fantasias por ele criadas, fundindo-as (muitas vezes brilhantemente) com a realidade objetiva e concreta que ele deveria estar vivendo. Esse processo, por sua vez, recebe o nome de desilusão, que se caracteriza por uma ruptura significativa (ou mesmo total) com a realidade objetiva e concreta com a qual precisamos estar em permanente em contato.
A “esquizofrenia paranóide” é, portanto, uma modalidade de esquizofrenia (com todas as características acima descritas), e que se aproxima da paranóia, na medida em que o indivíduo apresenta tal desordem mental estruturada em traços visíveis de megalomania (mania de grandeza) e desilusões persecutórias freqüentes. Dependendo do grau (intensidade) em que a doença se manifesta, nada impede que, de modo geral, os esquizofrênicos possam ser pessoas inteligentes, criativas e produtivas.
De qualquer forma, os esquizofrênicos geralmente sofrem demasiadamente, no sentido de que não sabem distinguir suas fantasias, manias e fixações da realidade que os cerca. Tendem a criar, portanto, mundos fantasiosos à parte, dentro do qual passam a viver isolados, posto que suas fantasias tendem a funcionar como um tampão em relação à realidade objetiva, funcionando, dessa forma, como uma muralha ao convívio social. É bem provável que os esquizofrênicos ajam dessa maneira por apresentarem, em todos os sentidos, uma baixa resistência à contrariedades, perdas e frustrações: eles não suportam que duvidem deles ou que contrariem a lógica das idéias absurdas que freqüentemente estruturam.
As primeiras manifestações de “esquizofrenia paranóide” costumam aparecer, em média, entre os 16 e 34 anos. É uma doença que não tem cura, mas que pode, porém, dependendo do grau, ser controlada através de medicamentos e acompanhamento psicoterapêutico, permitindo ao indivíduo levar uma vida relativamente normal. Ataques mais graves, em graus mais severos e com maior freqüência, podem exigir internações periódicas.
AS CAUSAS
Como já deve ter sido mencionado, a “esquizofrenia paranóide” é uma das piores modalidades esquizofrenia, que se caracteriza por ser uma desordem mental causadora de intensas distorções no modo de pensar, bem como nas percepções dos sentidos: o indivíduo portador da doença ouve e vê coisas que, de fato, não existem, se vistas pelo prisma de uma “realidade concreta e objetiva” - dentro da qual, nós, indivíduos não portadores dessa doença, estamos inseridos.
Os fatores que causam precisamente a “esquizofrenia paranóide” ainda são obscuros, sendo que já se sabe que o desequilíbrio na captação e recaptação de uma combinação de importantes neurotransmissores cerebrais constitui a causa fundamental da doença. No entanto, detalhes mais precisos sobre esse desequilíbrio e sobre o processo que o causa ainda são um grande mistério a ser desvelado pela ciência moderna.
O fator hereditário possui um papel significativo, de importância, posto que já foi observado que é mais provável (aumento de probabilidade) de se ser um esquizofrênico, caso o indivíduo possua algum histórico de esquizofrenia na família. O stress e o excesso de álcool não causam a esquizofrenia, pois a esquizofrenia é uma doença de origem genética e, portanto, inata, ou seja, o indivíduo nasce potencialmente com ela. Porém o stress - aliado ao uso abusivo do álcool - pode agravar tanto os sintomas de quem possui a doença, quanto criar, em determinado grau, um quadro sintomático comportamental naqueles que não apresentam a doença.
O PRINCIPAIS SINTOMAS PARA O CORRETO DIAGNÓSITICO DA DOENÇA
A esquizofrenia é uma doença que, geralmente, se desenvolve gradualmente – apesar de que, em determinados casos, ela pode se manifestar como um surto repentino. As pessoas mais próximas ao indivíduo esquizofrênico costumam perceber as mudanças primeiro do que o próprio.
Dentre os principais sinais, estão:
• Confusão mental;
• Inabilidade (ou incapacidade) para tomar decisões por si mesmo;
• Alucinações;
• Mudanças nos hábitos alimentares ou de sono, bem como nos níveis de energia;
• Desilusões (no sentido científico da palavra, anteriormente explicado);
• Nervosismo;
• Dizeres estranho e comportamento bizarro;
• Isolamento em relação aos amigos, trabalho ou estudos;
• Freqüente negligência à higiene pessoal;
• Raiva (intensa e freqüente) e agressividade (moderada);
• Indiferença pela opinião de terceiros;
• Tendência freqüente a discutir – com predileção a assuntos polêmicos ;
• Forte convicção de superioridade em relação aos demais, e que as pessoas são incapazes de entendê-lo.
O TRATAMENTO PSICOFARMACOLÓGICO
Sem medicação e acompanhamento psicoterapêutico, a maior parte dos “esquizofrênicos paranóides” tornam-se incapazes de operar no mundo real. Sem auxílio dos medicamentos e da orientação de um profissional competente, eles poderão desenvolver severas alucinações e desilusões, podendo, facilmente, se tornarem perigosas, tanto para eles mesmos como para as pessoas que o cercam.
Os medicamentos mais comuns para o tratamento da “esquizofrenia paranóide” são: o Thorazine, o Haldol e o Risperdal, capazes de combater os sintomas de maneira eficaz, em 4 entre cada cinco pacientes (ou seja, são eficientes em 80% dos casos). Os tratamentos com os medicamentos duram de quatro a oito semanas. Como a doença é incurável, terapias convencionais ou grupais podem ajudar o paciente a entender melhor a sua condição, aprendendo, com isso, a conviver com sua doença, o que é decisivo para o aumento gradual de sua qualidade de vida e produtividade. Mas lembre-se: jamais tome remédios sem a consulta prévia de um especialista no assunto, principalmente se você ainda não sabe se possui ou não a doença. Procure, primeiramente, estudar e entender ao máximo os seus problemas, em todos os sentidos.
NO CASO DA NECESSIDADE DE UMA INTERNAÇÃO
No caso de saber que irá ser internado, é provável que o indivíduo já tenha passado por isso outras vezes e já conheça a sua condição de esquizofrênico. Todavia, no caso de ser a primeira internação, o primeiro surto, não se apresse em obter um diagnóstico de algum curioso de plantão, pois somente um psiquiatra experiente, devidamente qualificado e habilitado, poderá diagnosticar seu problema como “esquizofrenia”, bem como dizer se a modalidade da mesma é a “paranóide”. Tampouco, tente adivinhar o que está acontecendo: só por que leu um artigo interessante, não ache que é mestre no assunto, pois você sempre terá alguma coisa a aprender, assim como os especialistas na área também terão. Simplesmente aceite todo o tipo de ajudar que puder: da família, dos amigos, do especialista que acompanha o seu caso, etc.
O tratamento para um surto esquizofrênico irá, sem dúvida, necessitar de uma internação em tempo integral, em clínica especializada, de onde o paciente não poderá sair, e aonde o mesmo poderá ser assistido por uma equipe de profissionais que, seguramente, saberão o que fazer. É importante que o responsável pela internação conheça a clínica e seus antecedentes, procurando colher o maior número possível de referências e informações sobre a mesma, bem como sobre os profissionais que estarão cuidando do caso.
Com o passar do tempo, na medida em que os sintomas forem se amenizando, o especialista deve considerar a possibilidade de transferir o paciente para um sistema de tratamento ambulatorial, onde será possível permitir que o mesmo retorne à sua casa, no final de mais um dia de tratamento. Nessa etapa, os pacientes podem vestir suas próprias roupas; porém, deve-se ter o extremo cuidado em evitar que os mesmos tenham contato com qualquer objeto pontiagudo, assim como: tesouras, facas, estiletes, etc., que deverão ser devidamente guardados pelos funcionários da clínica.
Pacientes que se mostrarem excessivamente agressivos, após o período do tratamento, poderão ser arbitrariamente hospitalizados por seu médico (ou “presos” pela polícia) por até três dias. De qualquer forma, enquanto hospitalizados, os pacientes deverão passar pelos seguintes procedimentos:
• Terapia em grupo: consiste na formação de um grupo de apoio formado por pessoas que sofrem problemas semelhantes (no caso, de esquizofrenia paranóide). Dentro do grupo, o indivíduo e os demais (seus semelhantes em sofri-mento) sentem-se plenamente à vontade, no sentido de compartilhar (entre si) suas dores, angústias e sentimentos mais profundos. A terapia em grupo é orientada por um profissional competente, geralmente um psiquiatra com formação psicanalítica.
• Terapia individual: em termos clínicos, consiste numa terapia que irá complementar a terapia grupal, não sendo, por isto, considerada menos importante que ela. A terapia individual é uma tentativa de se conferir a oportunidade ao paciente de se encontrar individualmente com seu terapeuta, a fim de procurar aprender meios de conviver e lidar com a sua doença.
• Reuniões com a família: nessas sessões, o especialista irá procurar fazer com que a família entenda e ajude na recuperação do paciente, ao mesmo tempo em que prepara o terreno adequado para que o mesmo retorne ao seio familiar e reduza a possibilidade de recaídas posteriores .
• Isolamento: caso o paciente sinta-se incapaz de controlar a si mesmo, o especialista e membros de sua equipe procuram algum meio de isolar o mesmo do contato com os outros pacientes – tanto para a sua própria segurança, quanto para a segurança dos demais. Em casos em que o paciente apresente agressividade excessiva, ele poderá ser amarrado à cama até que recobre a sua serenidade e possa voltar ao convívio com os demais.
• Tratamento eletroconvulsivos: também conhecida como “Terapia de Choque”, é aconselhável somente em casos extremos, quando é observado no paciente um comportamento excessivamente evasivo e de isolamento voluntário, devido a um quadro de depressão profunda. Esse tipo de tratamento, se monitorado e bem dosado, poderá, além de eliminar o quadro depressivo, poderá contribuir para acelerar a melhora e a recuperação do paciente como um todo. O tratamento consiste em ligar eletrodos ao cérebro do indivíduo, aplicando uma corrente elétrica forte a ponto de causar, repetidas vezes, convulsões mo-deradas - que duram determinado período de tempo. O paciente perde a memória, apresentando freqüentes lapsos, em todos os sentidos. Porém a memória volta à sua normalidade, geralmente, em duas semanas.
Fontes:
http://maxpages.com/elias/Esquizofrenia_Paranoide
http://virtualpsy.locaweb.com.br/dsm_janela.php?cod=39
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Livro - O que é Psicologia
Título: O que é Psicologia - Coleção primeiros passos 222
Autor: Maria Luíza Silveira Teles
Editora: Brasiliense
Tipo de arquivo: PDF (escaneado)
Tamanho: 6,70 MB
Sem tempo para parar e pensar, sem poder aproximar-se da Natureza, tantas vezes sem amigos com quem desabafar, sentindo-se só e alienado, o homem é hoje, mais que nunca, vítima de distúrbios emocionais.
Nesta época de rápidas transformações e muito estresse, cabe a psicologia fornecer-lhe subsídios para que possa lidar melhor consigo mesmo e com os problemas que a vida lhe apresenta.
PARA BAIXAR CLIQUE AQUI
Frase para pensar
"Como dizia o grande psicólogo Gemelli, todos nós temos setecentos ou mil anos em nosso sangue. Herdamos, portanto, o passado com suas virtudes e vícios, e levamos adiante aquilo que colhemos e aquilo que produzimos em nossa existência". Dom Paulo Evaristo Arns, religioso, SC, 1921
Depressão pós-parto: contrariedade de sentimentos
Alguns fatores podem favorecer o início dessa enfermidade
A gravidez e o parto são momentos marcantes para uma mulher, não apenas pela transformação corporal pela qual ela passa, mas pela responsabilidade biológica em carregar em si uma vida e pela responsabilidade pós-parto com aquela vida e a expectativa em poder proporcionar um ambiente físico e emocional favorável ao desenvolvimento do bebê, que passa a integrar a família e a sociedade. As respostas emocionais aos momentos críticos de sua vida, sejam eles bons ou ruins, são respostas de adaptação, muitas vezes, marcadas pelo adoecimento emocional da pessoa, como fato efetivo da dificuldade em se manter estável nesse período.
O primeiro mês após o parto é, talvez, o período no qual a mulher se encontra mais vulnerável emocionalmente. Nesse tempo o número de internações psiquiátricas é sete vezes maior do que a média de internações durante toda a gestação. Dois quadros comuns entre as mulheres que acabam de dar à luz é a “depressão pós-parto” (DPP) que atinge de 10 a 20% das parturientes e a “tristeza pós-parto” (blues pós-parto ou disforia puerperal) que acomete cerca de 50% das puérperas. São quadros bem distintos do ponto de vista de reações femininas, sendo que é mais comum o segundo caso [tristeza pós-parto], que é mais suave em seus sintomas e dura no máximo 5 semanas, não devendo evoluir para um quadro efetivo de depressão. Já a DPP é mais severa, merece um tratamento detalhado e uma atenção especial e pode instalar um quadro efetivo de depressão na mulher.
Podemos até achar estranho, pois se a gravidez é algo tão bonito e desejado, por que traz tantos riscos emocionais para a mulher? Isso ocorre justamente pela intensidade da experiência emocional vivida por ela, a qual nem sempre está suficientemente equilibrada e preparada emocionalmente para esse acontecimento em sua vida. Muitas vezes, mesmo mulheres com boa organização psíquica podem passar por isso.
A DPP geralmente tem início na primeira semana pós-parto, podendo ocorrer até dois anos após o parto ter feito. Alguns fatores podem favorecer o início dessa enfermidade, destacando-se:
– Mulheres com sintomas depressivos durante ou antes da gestação;
– Com histórico de transtornos afetivos, ou seja, que já tenham problemas psicológicos antes mesmo da gestação ou que não aceitem a gravidez de forma positiva;
– Gravidez rejeitada e gestação em que houve problemas sérios na vida pessoal podem provocar uma associação do problema com o bebê;
– Mulheres que sofrem de TPM (tensão pré-menstrual), que passaram por problemas de infertilidade ou que sofreram dificuldades na gestação;
– Submetidas à cesariana e com complicações no parto;
– Mães solteiras;
– Vítimas de carência social;
– Mulheres que perderam pessoas importantes, que passaram por aborto ou ainda quando seu bebê possui anomalias ou permanece na UTI e
– Que vivem em desarmonia conjugal.
O sintomas que se manifestam na mulher com depressão pós-parto, os quais podem ser percebidos no convívio familiar e social, são:
– Irritabilidade, mudanças bruscas de humor, indisposição, doenças psicossomáticas, tristeza profunda;
– Sintomas físicos: alterações gastrointestinais, ressecamento da boca, dor de cabeça e insônia;
– Desinteresse pelas atividades do dia a dia, falta de interesse no cuidado pessoal, sensação de incapacidade para cuidar do bebê e até mesmo de desinteresse por ele: a mãe pode deixar de alimentar e dispensar os cuidados básicos ao bebê. E em casos mais graves, ela pode ser tomada por pensamentos suicidas e homicidas em relação a ele.
Para ser considerada depressão pós-parto é necessário que ela ocorra até o sexto mês após o parto. Essa doença é prolongada e normalmente necessita de medicamento e acompanhamento psiquiátrico para ser controlada e dar melhor qualidade de vida e até mesmo segurança para a mulher, o bebê e a família.
Não há um trabalho preventivo para a DPP, mas o pré-natal é importante para orientar a mãe com relação às suas necessidades e também com relação às do bebê, bem como para prevenir esse mal, porque reduz o medo, a expectativa e a ansiedade da mãe nesta fase por meio de informações e do acompanhamento recebido.
A família tem um papel importante para que a mulher seja cuidada não só durante a gravidez, mas após o parto. Por vezes, a família não dá tanta importância ao fato [DPP], achando que isso é próprio da fase, que logo vai passar, que é “coisa de mãe”. O risco não é apenas com relação à mãe, mas também com relação à qualidade da saúde mental do recém-nascido, pois ela passa a destinar sentimentos negativos ao filho, maltratá-lo e até mesmo a ter vontade de eliminar a vida da criança. Isso não é apenas maldade ou falta de Deus. Trata-se, sim, de um quadro que requer atenção redobrada, pois ao contrário do que o socialmente desejado, nem sempre a reação da mulher é positiva e sua estrutura emocional preparada para esse momento. Sentimentos de incompetência, incapacidade, limitação nos papéis que a mulher ocupa na sociedade, na família, no casamento podem estar presentes e despertarem um processo depressivo. De forma geral, a mulher sente que perdeu o lugar de filha sem que tenha ainda segurança no papel de mãe; que o corpo está irreconhecível, pois se já não é mais de uma grávida, tampouco retomou sua forma original; e que entre ela e o marido encontra-se um terceiro elemento. O bebê emerge como um outro ser humano aos olhos desta mãe e precisa encontrar um espaço dentro desta configuração anterior (casal) de forma a deixar preservada a sexualidade dos pais.
A DPP é severa e merece, sim, um acompanhamento psicológico e psiquiátrico, especialmente pela gravidade dos sintomas apresentados pela mãe, pois, muitas vezes, o uso de medicação e acompanhamento psicológico serão necessários. Uma mãe dedica-se ao bebê sem que tenha certeza do futuro ou do reconhecimento do filho. Nas fases iniciais sua dedicação é muito intensa e torna-se complicado que uma mãe possa atender as necessidades do bebê caso esteja comprometida psicologicamente.
Busque orientação e conhecimento, que são essenciais na percepção e até mesmo na antecipação da existência potencial dessa enfermidade que acomete tantas famílias.
Foto
Elaine Ribeiro
psicologia01@cancaonova.com
Elaine Ribeiro, colaboradora da Comunidade Canção Nova, formada em Psicologia Clínica e Pós-Graduada em Gestão de Pessoas
Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?e=11676
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
"Ensinem os filhos a falhar"
Estudioso das relações familiares, o psicanalista belga
Jean-Pierre Lebrun diz que aprender a lidar com o insucesso
é fundamental para livrar-se de apuros na vida adulta
Ronaldo Soares
"Uma família harmônica não necessariamente faz de um jovem uma pessoa capaz de suportar o sofrimento inerente à condição humana"
Nos últimos trinta anos, o modelo tradicional de família passou por alterações significativas, principalmente no mundo ocidental. A ideia dos pai s como senhores do destino dos filhos vem desabando progressivamente, no ritmo das transformações sociais. As consequências disso não são necessariamente ruins, como explica o psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun, uma das princi pai s referências na Europa no estudo sobre mudanças nas relações entre pai s e filhos: "O que vale é a capacidade dos pai s de fazer os filhos crescer. Esse é o bom ambiente familiar, independentemente do desenho que a família tenha". Lebrun esteve no Rio de Janeiro, para participar do 3º Encontro Franco-Brasileiro de Psicanálise e Direito. A seguir, os princi pai s trechos da entrevista que concedeu a VEJA.
Por que os pai s hoje têm tanta dificuldade de controlar seus filhos?
Isso é reflexo da perda de legitimidade. Até pouco tempo atrás, a sociedade era hierarquizada, de forma que havia sempre um único lugar de destaque. Ele podia ser ocupado por Deus, ou pelo papa, ou pelo pai , ou pelo chefe. Isso foi se desfazendo progressivamente, e o processo se acentuou nos últimos trinta anos. Hoje a organização social não está mais constituída como pirâmide, mas como rede. E na rede não existe mais esse lugar diferente, que era reconhecido espontaneamente como tal e que conferia autoridade aos pai s. As dificuldades para impor limites se acentuaram, causando grande apreensão nas pessoas quanto ao futuro de seus filhos.
Existe uma fórmula para evitar que os filhos sigam por um caminho errado?
É preciso ensiná-los a falhar. Uma coisa certa na vida é que as crianças vão falhar, não há como ser diferente. Quando os pai s, a família e a sociedade dizem o tempo todo que é preciso conseguir, conseguir, conseguir, massacram os filhos. É inescapável errar. Todo mundo, em algum momento, vai passar por isso. Aprender a lidar com o fracasso evita que ele se torne algo destrutivo. Às vezes é preciso lembrar coisas muito simples que as pessoas parecem ter esquecido completamente. Estamos como que dopados. Os pai s sabem que as crianças não ficarão com eles a vida inteira, que não vão conseguir tudo o que sonharam, que vão estabelecer ligações sociais e afetivas que, por vezes, lhes farão mal, mas tentam agir como se não soubessem disso. Hoje os filhos se tornaram um indicador do sucesso dos pai s. Isso é perigoso, porque cada um tem a sua vida. Não é justo que, além de carregarem o peso das próprias dificuldades, os filhos também tenham de suportar a angústia de falhar em relação à expectativa depositada neles.
Falando concretamente, como é possível perceber essa diferença no comportamento das famílias hoje?
A mudança é visível. Na Europa, por exemplo, quando um professor dá nota baixa a um aluno, é certo que os pai s vão aparecer na escola no dia seguinte para reclamar com ele. Há vinte, trinta anos, era o aluno que tinha de dar satisfações aos pai s diante do professor. É uma completa inversão. Posso citar outro exemplo. Desde sempre, quando se levam os filhos pela primeira vez à escola, eles choram. Hoje em dia, normalmente são os pai s que choram. A cena é comum. É como se esses pai s tivessem continuado crianças. Isso acontece porque eles não são capazes de se apresentar como a geração acima da dos filhos. É uma consequência desse novo arranjo social, em que os papéis estão organizados de forma mais horizontal.
Como o senhor avalia essa mudança? Esse novo arranjo é pior do que o anterior?
Hoje os pai s precisam discutir tudo, negociar o que antes eram ordens definitivas. E isso não é necessariamente algo negativo, desde que fique claro que, depois de negociar, discutir, trocar ideias, quem decide são os pai s.
Essas mudanças na estrutura social podem influenciar em aspectos negativos como, por exemplo, o uso abusivo de drogas?
Não há uma relação automática. Os mecanismos pelos quais os indivíduos se tornam dependentes químicos são diversos e complexos. A psicanálise ajuda a identificar alguns deles. Vou dar um exemplo. Manter uma criança em satisfação permanente, com sua chupeta na boca o tempo todo, fazendo por ela tudo o que ela pede, a impede de ser confrontada com a perda da satisfação completa. E isso vai ser determinante em sua formação.
Mas o que essa perda tem a ver com o fato de as pessoas enveredarem por um caminho autodestrutivo?
É uma anomalia no processo de humanização. Não nascemos humanos, nós nos tornamos. Isso ocorre quando aprendemos aquilo em que somos singulares entre todos os animais que habitam o planeta. Somos os únicos capazes de falar. Não se trata apenas de aprender ortografia ou usar as palavras corretamente. Quando dominamos a faculdade da linguagem, adquirimos uma série de características muito especiais, como, por exemplo, a consciência de que somos mortais. Aprendemos a construir as pontes que levam a um entendimento superior do mundo e de nossa condição. Isso é o que nos diferencia e nos torna completamente humanos. Um desequilíbrio nesse processo pode ter consequências. É aí que entra a explicação psicanalítica para o ingresso no universo das drogas. Aprender a falar, ou tornar-se humano, é algo que não ocorre espontaneamente. É uma reação a uma perda do estado permanente de satisfação completa com a qual somos confrontados na primeira infância. Ou seja, o processo de humanização começa pelo entendimento de que jamais haverá a satisfação completa. É esse o curso saudável das coisas. Se os pai s boicotam esse processo, podem estar cometendo um erro.
Com que consequências?
Isso faz com que estejamos cada vez menos preparados para lidar com o sofrimento da nossa condição humana. Há séculos que as drogas têm algo de paraíso artificial, como diz Baudelaire. Ou seja, uma forma de se refugiar da dor humana, da insatisfação. As drogas sempre serviram para evitar o confronto com esse sofrimento. Quanto menos você está preparado a suportar as dificuldades, mais está inclinado a se evadir, a recorrer a substâncias, sejam as drogas ilícitas, sejam as medicamentosas, para limitar o sofrimento que vai se apresentar. Com o desenvolvimento da farmacologia, essas substâncias se tornaram muito acessíveis. Isso pode criar distorções. É muito mais simples tomar uma Ritalina para não ser hiperativo do que fazer todo o trabalho de aprender a suportar a condição humana. Quando criança, a pessoa já precisa ser confrontada com a condição humana da perda de satisfação. Dessa maneira, na idade adulta, sua relação com o fim de uma pai xão amorosa, por exemplo, tem maiores chances de ocorrer de maneira mais aceitável e menos traumática.
Por que as drogas têm apelo especial para os jovens?
Eles são mais sensíveis a esse fenômeno porque têm uma tendência espontânea a, quando se tornam adultos, ser novamente confrontados com as dificuldades da existência. É, de certa forma, a repetição daquilo que haviam vivenciado na infância, quando foram, ou deveriam ter sido, apresentados à ideia de perda da satisfação completa, de que não ficariam com a chupeta na boca a vida inteira, por exemplo. Se, no ambiente em que esses jovens vivem, há uma abundância de produtos que funcionam como um meio de evitar essas dificuldades, eles mergulham de cabeça. Como também veem nisso certo caráter transgressivo, todas as condições estão dadas para que eles recorram às drogas.
Que conselhos o senhor daria a pai s que têm filhos viciados?
É preciso não achar que, pelo fato de os filhos usarem drogas, tudo está perdido. Isso não contribui em nada. Caso contrário, o jovem drogado, além de conviver com o próprio drama, terá de carregar a angústia dos pai s sobre os ombros. Esse é o momento em que os pai s devem aceitar que algo não funcionou direito em vez de tratar o problema como se tudo estivesse perdido. Nem sempre está.
Há alguma terapia que funcione contra a dependência química?
Cada caso requer um trabalho. Não existe terapia milagrosa. Há tentativas interessantes, de pessoas que se ocupam de refazer com o sujeito o trabalho de suportar as frustrações, as impossibilidades, os limites. Esse trabalho pode ajudar as pessoas a se livrar da dependência. Não existe até hoje uma droga que chegue a resolver o problema da droga. Momentaneamente, a pessoa pode até ficar contente se conseguir se tornar um pouco menos ansiosa, mas é preciso ver que efeito isso tem a longo prazo.
Existem dependentes irrecuperáveis?
A psiquiatria não é uma ciência universal, ela não diz o que vale para todos, ou mesmo para uma série de pacientes. É preciso trabalhar sempre caso a caso. Mas eu não diria nunca que um viciado em drogas é irrecuperável. Existem outros elementos em jogo que precisam ser considerados. Não há dependência química que não seja fruto de uma interação malsucedida entre o contexto social em que o indivíduo está inserido e o seu trajeto singular desde a infância.
Pouco mais de um mês atrás, no Rio de Janeiro, um rapaz viciado em crack matou uma amiga que tentava ajudá-lo. O pai do rapaz atribuiu a tragédia à dificuldade de internar o filho. O senhor é favorável à internação de dependentes químicos?
Essa é uma questão complicada mesmo. Na Europa, de modo geral, optamos cada vez menos pela internação de dependentes químicos. Quando a internação é necessária, esperamos que ela se dê de forma voluntária. Nos casos em que isso não é possível, a internação dura em média quarenta dias e é acompanhada de medidas administrativas para evitar abusos que já aconteceram, de internações excessivamente longas. Nesse aspecto, minha posição é como a dos europeus de maneira geral. Ficamos um pouco divididos entre manter nosso princípio democrático de que, mesmo doente, cada um tem o direito de dar sua opinião e, por outro lado, ter de reconhecer que em determinadas situações isso não é possível.
Costuma-se atribuir o mau comportamento dos filhos à falta da estrutura familiar tradicional, como a que ocorre após uma separação. Qual a exata influência que isso pode ter?
Uma família organizada de forma aparentemente harmônica não necessariamente faz de um jovem uma pessoa capaz de conviver e suportar o sofrimento inerente à condição humana. Essa capacidade pode ser pequena em famílias aparentemente realizadas, com estrutura sólida. Assim como pode ser enorme em uma família conflituosa, dividida, conturbada. Por isso, não se deve levar em conta apenas o aspecto exterior da família. O que vale é a capacidade dos pai s de fazer os filhos crescer. De incutir-lhes a verdadeira condição humana. Esse é o bom ambiente familiar, independentemente do desenho que a família tenha.
O melhor mesmo, então, é aceitar que a existência é sofrida?
O processo é mesmo muito mais complexo do que ocorre com outros animais. Um cão nasce cão e será assim para o resto da vida. Um tigre será sempre tigre. Um humano, no entanto, precisa se tornar plenamente humano. É uma enorme diferença. Esse processo leva uns vinte, 25 anos e está sujeito a percalços. Na Renascença já se falava disso: não somos humanos, nós nos tornamos humanos.
Jean-Pierre Lebrun diz que aprender a lidar com o insucesso
é fundamental para livrar-se de apuros na vida adulta
Ronaldo Soares
"Uma família harmônica não necessariamente faz de um jovem uma pessoa capaz de suportar o sofrimento inerente à condição humana"
Nos últimos trinta anos, o modelo tradicional de família passou por alterações significativas, principalmente no mundo ocidental. A ideia dos pai s como senhores do destino dos filhos vem desabando progressivamente, no ritmo das transformações sociais. As consequências disso não são necessariamente ruins, como explica o psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun, uma das princi pai s referências na Europa no estudo sobre mudanças nas relações entre pai s e filhos: "O que vale é a capacidade dos pai s de fazer os filhos crescer. Esse é o bom ambiente familiar, independentemente do desenho que a família tenha". Lebrun esteve no Rio de Janeiro, para participar do 3º Encontro Franco-Brasileiro de Psicanálise e Direito. A seguir, os princi pai s trechos da entrevista que concedeu a VEJA.
Por que os pai s hoje têm tanta dificuldade de controlar seus filhos?
Isso é reflexo da perda de legitimidade. Até pouco tempo atrás, a sociedade era hierarquizada, de forma que havia sempre um único lugar de destaque. Ele podia ser ocupado por Deus, ou pelo papa, ou pelo pai , ou pelo chefe. Isso foi se desfazendo progressivamente, e o processo se acentuou nos últimos trinta anos. Hoje a organização social não está mais constituída como pirâmide, mas como rede. E na rede não existe mais esse lugar diferente, que era reconhecido espontaneamente como tal e que conferia autoridade aos pai s. As dificuldades para impor limites se acentuaram, causando grande apreensão nas pessoas quanto ao futuro de seus filhos.
Existe uma fórmula para evitar que os filhos sigam por um caminho errado?
É preciso ensiná-los a falhar. Uma coisa certa na vida é que as crianças vão falhar, não há como ser diferente. Quando os pai s, a família e a sociedade dizem o tempo todo que é preciso conseguir, conseguir, conseguir, massacram os filhos. É inescapável errar. Todo mundo, em algum momento, vai passar por isso. Aprender a lidar com o fracasso evita que ele se torne algo destrutivo. Às vezes é preciso lembrar coisas muito simples que as pessoas parecem ter esquecido completamente. Estamos como que dopados. Os pai s sabem que as crianças não ficarão com eles a vida inteira, que não vão conseguir tudo o que sonharam, que vão estabelecer ligações sociais e afetivas que, por vezes, lhes farão mal, mas tentam agir como se não soubessem disso. Hoje os filhos se tornaram um indicador do sucesso dos pai s. Isso é perigoso, porque cada um tem a sua vida. Não é justo que, além de carregarem o peso das próprias dificuldades, os filhos também tenham de suportar a angústia de falhar em relação à expectativa depositada neles.
Falando concretamente, como é possível perceber essa diferença no comportamento das famílias hoje?
A mudança é visível. Na Europa, por exemplo, quando um professor dá nota baixa a um aluno, é certo que os pai s vão aparecer na escola no dia seguinte para reclamar com ele. Há vinte, trinta anos, era o aluno que tinha de dar satisfações aos pai s diante do professor. É uma completa inversão. Posso citar outro exemplo. Desde sempre, quando se levam os filhos pela primeira vez à escola, eles choram. Hoje em dia, normalmente são os pai s que choram. A cena é comum. É como se esses pai s tivessem continuado crianças. Isso acontece porque eles não são capazes de se apresentar como a geração acima da dos filhos. É uma consequência desse novo arranjo social, em que os papéis estão organizados de forma mais horizontal.
Como o senhor avalia essa mudança? Esse novo arranjo é pior do que o anterior?
Hoje os pai s precisam discutir tudo, negociar o que antes eram ordens definitivas. E isso não é necessariamente algo negativo, desde que fique claro que, depois de negociar, discutir, trocar ideias, quem decide são os pai s.
Essas mudanças na estrutura social podem influenciar em aspectos negativos como, por exemplo, o uso abusivo de drogas?
Não há uma relação automática. Os mecanismos pelos quais os indivíduos se tornam dependentes químicos são diversos e complexos. A psicanálise ajuda a identificar alguns deles. Vou dar um exemplo. Manter uma criança em satisfação permanente, com sua chupeta na boca o tempo todo, fazendo por ela tudo o que ela pede, a impede de ser confrontada com a perda da satisfação completa. E isso vai ser determinante em sua formação.
Mas o que essa perda tem a ver com o fato de as pessoas enveredarem por um caminho autodestrutivo?
É uma anomalia no processo de humanização. Não nascemos humanos, nós nos tornamos. Isso ocorre quando aprendemos aquilo em que somos singulares entre todos os animais que habitam o planeta. Somos os únicos capazes de falar. Não se trata apenas de aprender ortografia ou usar as palavras corretamente. Quando dominamos a faculdade da linguagem, adquirimos uma série de características muito especiais, como, por exemplo, a consciência de que somos mortais. Aprendemos a construir as pontes que levam a um entendimento superior do mundo e de nossa condição. Isso é o que nos diferencia e nos torna completamente humanos. Um desequilíbrio nesse processo pode ter consequências. É aí que entra a explicação psicanalítica para o ingresso no universo das drogas. Aprender a falar, ou tornar-se humano, é algo que não ocorre espontaneamente. É uma reação a uma perda do estado permanente de satisfação completa com a qual somos confrontados na primeira infância. Ou seja, o processo de humanização começa pelo entendimento de que jamais haverá a satisfação completa. É esse o curso saudável das coisas. Se os pai s boicotam esse processo, podem estar cometendo um erro.
Com que consequências?
Isso faz com que estejamos cada vez menos preparados para lidar com o sofrimento da nossa condição humana. Há séculos que as drogas têm algo de paraíso artificial, como diz Baudelaire. Ou seja, uma forma de se refugiar da dor humana, da insatisfação. As drogas sempre serviram para evitar o confronto com esse sofrimento. Quanto menos você está preparado a suportar as dificuldades, mais está inclinado a se evadir, a recorrer a substâncias, sejam as drogas ilícitas, sejam as medicamentosas, para limitar o sofrimento que vai se apresentar. Com o desenvolvimento da farmacologia, essas substâncias se tornaram muito acessíveis. Isso pode criar distorções. É muito mais simples tomar uma Ritalina para não ser hiperativo do que fazer todo o trabalho de aprender a suportar a condição humana. Quando criança, a pessoa já precisa ser confrontada com a condição humana da perda de satisfação. Dessa maneira, na idade adulta, sua relação com o fim de uma pai xão amorosa, por exemplo, tem maiores chances de ocorrer de maneira mais aceitável e menos traumática.
Por que as drogas têm apelo especial para os jovens?
Eles são mais sensíveis a esse fenômeno porque têm uma tendência espontânea a, quando se tornam adultos, ser novamente confrontados com as dificuldades da existência. É, de certa forma, a repetição daquilo que haviam vivenciado na infância, quando foram, ou deveriam ter sido, apresentados à ideia de perda da satisfação completa, de que não ficariam com a chupeta na boca a vida inteira, por exemplo. Se, no ambiente em que esses jovens vivem, há uma abundância de produtos que funcionam como um meio de evitar essas dificuldades, eles mergulham de cabeça. Como também veem nisso certo caráter transgressivo, todas as condições estão dadas para que eles recorram às drogas.
Que conselhos o senhor daria a pai s que têm filhos viciados?
É preciso não achar que, pelo fato de os filhos usarem drogas, tudo está perdido. Isso não contribui em nada. Caso contrário, o jovem drogado, além de conviver com o próprio drama, terá de carregar a angústia dos pai s sobre os ombros. Esse é o momento em que os pai s devem aceitar que algo não funcionou direito em vez de tratar o problema como se tudo estivesse perdido. Nem sempre está.
Há alguma terapia que funcione contra a dependência química?
Cada caso requer um trabalho. Não existe terapia milagrosa. Há tentativas interessantes, de pessoas que se ocupam de refazer com o sujeito o trabalho de suportar as frustrações, as impossibilidades, os limites. Esse trabalho pode ajudar as pessoas a se livrar da dependência. Não existe até hoje uma droga que chegue a resolver o problema da droga. Momentaneamente, a pessoa pode até ficar contente se conseguir se tornar um pouco menos ansiosa, mas é preciso ver que efeito isso tem a longo prazo.
Existem dependentes irrecuperáveis?
A psiquiatria não é uma ciência universal, ela não diz o que vale para todos, ou mesmo para uma série de pacientes. É preciso trabalhar sempre caso a caso. Mas eu não diria nunca que um viciado em drogas é irrecuperável. Existem outros elementos em jogo que precisam ser considerados. Não há dependência química que não seja fruto de uma interação malsucedida entre o contexto social em que o indivíduo está inserido e o seu trajeto singular desde a infância.
Pouco mais de um mês atrás, no Rio de Janeiro, um rapaz viciado em crack matou uma amiga que tentava ajudá-lo. O pai do rapaz atribuiu a tragédia à dificuldade de internar o filho. O senhor é favorável à internação de dependentes químicos?
Essa é uma questão complicada mesmo. Na Europa, de modo geral, optamos cada vez menos pela internação de dependentes químicos. Quando a internação é necessária, esperamos que ela se dê de forma voluntária. Nos casos em que isso não é possível, a internação dura em média quarenta dias e é acompanhada de medidas administrativas para evitar abusos que já aconteceram, de internações excessivamente longas. Nesse aspecto, minha posição é como a dos europeus de maneira geral. Ficamos um pouco divididos entre manter nosso princípio democrático de que, mesmo doente, cada um tem o direito de dar sua opinião e, por outro lado, ter de reconhecer que em determinadas situações isso não é possível.
Costuma-se atribuir o mau comportamento dos filhos à falta da estrutura familiar tradicional, como a que ocorre após uma separação. Qual a exata influência que isso pode ter?
Uma família organizada de forma aparentemente harmônica não necessariamente faz de um jovem uma pessoa capaz de conviver e suportar o sofrimento inerente à condição humana. Essa capacidade pode ser pequena em famílias aparentemente realizadas, com estrutura sólida. Assim como pode ser enorme em uma família conflituosa, dividida, conturbada. Por isso, não se deve levar em conta apenas o aspecto exterior da família. O que vale é a capacidade dos pai s de fazer os filhos crescer. De incutir-lhes a verdadeira condição humana. Esse é o bom ambiente familiar, independentemente do desenho que a família tenha.
O melhor mesmo, então, é aceitar que a existência é sofrida?
O processo é mesmo muito mais complexo do que ocorre com outros animais. Um cão nasce cão e será assim para o resto da vida. Um tigre será sempre tigre. Um humano, no entanto, precisa se tornar plenamente humano. É uma enorme diferença. Esse processo leva uns vinte, 25 anos e está sujeito a percalços. Na Renascença já se falava disso: não somos humanos, nós nos tornamos humanos.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Por meio da dança, portadores de síndrome de Down revelam progressos no tratamento da doença
Elisa Tecles
Publicação: 14/12/2009 08:14 Atualização: 14/12/2009 08:19
Aos 16 anos, o estudante Alexandre Guimarães de Paula só quer saber de dançar e fazer bonito no palco. Ele ensaia os passos de street dance em frente ao espelho da sala e acompanha os movimentos dos colegas para não sair do ritmo. Na noite da próxima quarta-feira, Alexandre se apresentará pela primeira vez no Teatro Nacional Claudio Santoro. O espetáculo é a mais nova conquista do adolescente, que nasceu com síndrome de Down.
Alexandre Guimarães de Paula (C) durante uma aula: movimentos sincronizados destacam o adolescente em uma atividade que lhe dá prazer e destacam suas habilidades cênicas - ( Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Alexandre Guimarães de Paula (C) durante uma aula: movimentos sincronizados destacam o adolescente em uma atividade que lhe dá prazer e destacam suas habilidades cênicas
A família de Alexandre não teve dúvidas ao escolher a dança que combinaria com o rapaz. “Ele gosta de músicas movimentadas, é o estilo dele”, comentou a mãe do jovem, a funcionária pública Gilda Guimarães de Paula, 55 anos. É ela quem leva o estudante aos últimos ensaios do show — em três dias, ele subirá ao palco da Sala Martins Penna com outros três dançarinos.
Todos os sábados, Alexandre passa as manhãs na aula de street dance. Tamanho fôlego vem dos treinos de futsal e natação, esportes preferidos do estudante. Gilda torce para o filho exercer todo tipo de atividade, mas nem sempre recebeu incentivo para isso. “Quando fomos à primeira consulta, o médico disse que ele não ia fazer isso e aquilo. Eu não escutava e pensava: ‘Meu filho vai ser diferente’”, lembrou.
Quinze dias depois do nascimento, Gilda levou Alexandre a uma clínica especializada no tratamento da síndrome de Down. Com a estimulação precoce, o bebê começou a engatinhar e aprendeu a andar com 1 ano e 2 meses de idade. Vencida a primeira dificuldade, Gilda procurou escolas para matricular o filho. Recebeu diversas respostas negativas em colégios particulares, que alegavam não ter pessoal especializado para ensinar a criança. O garoto entrou em uma escola regular da rede pública, mas não teve o resultado esperado. “Era só um professor para muitos alunos, não tinha como dar atenção ao Alexandre”, disse Gilda. No início do ano, o rapaz foi aceito em um colégio particular, onde começou a ler e a escrever. Além da alfabetização, os alunos exercitam atividades do cotidiano, como fazer compras no shopping e prestar atenção nos preços e no valor do troco recebido.
Bailando
Nas aulas de street dance, Alexandre se movimenta e adquire percepção do próprio corpo. “Tem pessoas que procuram a dança para se sentir bem. A dança é qualidade de vida”, comentou o professor da turma, Wesley Messias, 30 anos. Wesley dá atenção a Alexandre , mas o tratamento é o mesmo para todos os alunos: eles devem respeitar os momentos de alongamento e de ensaio e seguir as orientações do professor.
- ( Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Em casa, a disciplina é a mesma. Assim como as duas irmãs mais velhas, Alexandre não escapa das broncas quando sai da linha. “Criei os três do mesmo jeito, brigando e colocando de castigo”, afirmou Gilda. A mãe é durona quando necessário, mas derrete-se com as conquistas do filho. Ao saber da participação dele do espetáculo, não se conteve. “Fiquei tão feliz, isso é muito gratificante. Tudo o que ele fizer lá a gente vai achar lindo, a família toda vai chorar”, adiantou.
Gilda descobriu as habilidades do filho com a dança durante uma festa. Começou a tocar Michael Jackson e o garoto correu para a pista. “Ele foi aplaudido de pé. Nem eu sabia que ele dançava tanto!”, comentou. Antes de qualquer festa, a mãe escuta a mesma pergunta do filho: “Vai ter DJ?”.
O espetáculo do Instituto de Dança Juliana Castro contará com a participação de 120 bailarinos, entre 7 e 65 anos. A coreografia Geometria brasileira terá trechos de balé, dança afro, dança de salão, jazz, sapateado, salsa e outros estilos. Na turma de Alexandre, a maioria dos alunos pratica street dance há menos de um ano, mas já arrisca coreografias completas.
A diretora artística da academia, Juliana Castro, é pós-graduada em ensino especial e busca a participação de crianças com deficiências nas aulas de dança. Nos oito espetáculos realizados pelo instituto, todos contaram com bailarinos portadores de necessidades especiais. “O tratamento é igual, respeitando a limitação dele e de qualquer outro aluno”, resume Juliana. Segundo ela, o importante é garantir aos pais que os filhos estão em um ambiente seguro, com cuidados especiais.
Cromossomos
Crianças nascidas com a síndrome de Down possuem três cromossomos 21 (trissomia), um a mais que o normal. Elas costumam ter desenvolvimento físico e mental mais lento que o de outras crianças e podem levar mais tempo para começar a andar ou a falar. Algumas podem apresentar problemas no coração ou perda auditiva e ter maiores chances de desenvolver leucemia ou mal de Alzheimer. A frequência da trissomia na população é de um a cada 650 a 1 mil recém-nascidos.
Street dance
A dança teve origem nos Estados Unidos, no fim da década de 1960. Os passos rápidos conquistaram os guetos americanos e o estilo se popularizou. Nos anos 1980, o hip-hop ganhou destaque no Brasil e trouxe as coreografias do street dance. A modalidade deixou de ser exclusiva das ruas e virou moda em academias no país.
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