segunda-feira, 16 de novembro de 2009
SUGESTÃO DE LEITURA - ACAFIC (ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE FILOSOFIA CLÍNICA)
Gottfried Wilhelm Leibniz
CONFESSIO PHILOSOPHI (PROFISSÃO DE FÉ DO FILÓSOFO), 1673. GOTTFRIED WILHELM LEIBNIZ, 1646-1716.
Reconstituindo uma discussão imaginária entre um filósofo e um teólogo, Leibniz interroga-se sobre a bondade divina. Deus é justo? Mas ele é responsável pelo mal. É injusto? Mas deseja a felicidade de todos. É preciso repensar o universo para compreender esse aparente paradoxo. Deus é harmonia universal, e essa harmonia se exprime na diversidade do mundo. Essa pluralidade é também manifesta no homem, capaz de praticar o bem em maior ou menor grau. A harmonia induz à discordância, fonte do mal; as idéias eternas do entendimento divino trazem o pecado à existência. É preciso imaginar essa criação harmônica como multiplicação infinita de séries de acontecimentos. Assim, a alma e o corpo de um homem são duas séries paralelas completamente separadas, mas que coexistem. Toda experiência comporta uma combinação dessas séries que se encontram e formam um ponto de vista particular do mundo. Todas as “séries harmônicas” são determinadas por toda a eternidade, mas não impedem que o homem seja livre: ele não as conhece, e pode sempre agir segundo seu livre-arbítrio. Portanto, pode pecar se não fizer bom uso de sua razão em seus atos, se não souber reconhecer seu lugar no mundo. Em vista disso, o mal não é cometido por Deus, mas pelo homem, que se recusa a enxergar “a República Universal”. Inversamente, aquele que contempla a harmonia rejubila-se em Deus e o ama. Deus é justo, não quer nem deixa de querer o mal: querer o mal seria amá-lo (e então Deus seria injusto); não o querer seria sofrer por sua existência (e então Deus não seria onipotente). Por isso, Deus permite os pecados, necessários à “Harmonia do Todo”.
Assim como vários outros textos de Leibniz (sobretudo o Discurso de metafísica), esse diálogo destina-se a Arnauld, discípulo de Descartes. É o primeiro texto em que, definindo cada termo (necessário, contingente, possível, amar, permitir, harmonia, justo etc.), Leibniz expõe sua teoria do melhor dos mundos possíveis. Mas seu sistema se completa nessa obra: falta-lhe a noção de substância individual, que mais tarde ele chamará de “mônada” (Monadologia). Mas nesse diálogo já se destaca a ambigüidade constante de suas obras: a exposição é ao mesmo tempo filosófica e teológica; a razão vem sempre conjugada à fé.
Estudo: Y. Belaval, Leibniz, iniciation à sa philosophie, Vrin, 1962.
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